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opinião

Despedida triunfal

No documentário This Is It, Michael Jackson mostra que ainda tinha muita lenha para queimar | Divulgação
No documentário This Is It, Michael Jackson mostra que ainda tinha muita lenha para queimar (Foto: Divulgação)

Estava com medo de que This Is It, o documentário de Kenny Ortega com cenas captadas em três meses de ensaios para o show homônimo, que Michael Jackson teria feito em Londres durante 50 noites a partir de julho – não fosse sua morte repentina em 25 de junho – fosse piegas, condescendente ou, pior ainda, mostrasse um Michael cansado, frágil, doente ou caricato.

Felizmente esse temor não se justifica. O filme é uma despedida honrosa e digna do maior astro pop de todos os tempos, e mostra que ele ainda tinha muita lenha para queimar. Isso fica claro logo no início, quando Michael aparece cantando e dançando "Wanna Be Startin’ Something". Em nenhum momento parece haver algo errado com ele. Alguns podem achá-lo magro demais, mas isso só chama a atenção agora, depois da tragédia. Michael aparece em forma, concentrado e bem disposto, cantando e dançando com a habitual desenvoltura. Ninguém diria que ele tinha 50 anos, que passava noites em claro ou que era dependente de analgésicos.

Ao longo do filme, vão aparecendo outros traços da personalidade atormentada de Michael Jackson. Como o perfeccionismo obsessivo, que o levava a passar e repassar quantas vezes fosse necessário cada detalhe da apresentação – os movimentos da coreografia, as diferentes partes das músicas e até a duração das pausas de cada número. Em determinado momento, depois de vários minutos tentando explicar para o tecladista uma nota fora do lugar na introdução de "The Way You Make Me Feel", Michael desabafa: "Quero que saia como eu escrevi, do jeito que as pessoas conheceram a música no disco". E ele fica tão frustrado quando as coisas não saem do jeito "certo" que usa um bordão, como para tentar convencer a si mesmo: "É por isso que a gente ensaia".

Mas é nessas "broncas" que transparece outra característica de Michael Jackson: a doçura. Em outra passagem, depois de reclamar de algo que não havia sido feito como ele queria, o astro se justifica: "Eu só falo isso por amor, L-O-V-E!". Por outro lado, quando a equipe acerta, Michael distribui sorrisos e "God bless you".

Em This is It também vemos um Michael Jackson tremendamente competitivo. Como no fim de "I Just Can’t Stop Lovin’ You", quando o dueto quase vira um duelo vocal entre ele e a vocalista: "Por que vocês me fazem dar tudo, eu não posso cantar desse jeito agora. Ela pode, mas eu tenho que preservar a minha voz", argumenta. "Mas você não se aguenta", rebate Kenny Ortega.

O filme também traz à tona a personalidade infantilizada do ídolo. Durante "I Want You Back", sucesso do Jackson 5, Michael não consegue cantar sua parte e parece visivelmente contrariado. Até que interrompe a música: "Eu estou tentando cantar, mas não consigo. Parece que estão apunhalando meus ouvidos", lamenta. Com toda a paciência, Kenny Ortega pergunta: "Michael, o que nós podemos fazer para que você se sinta mais confortável?". E ele responde timidamente: "Talvez abaixar um pouco o volume (do retorno)". Ele faz toda uma cena, como se fosse um garoto de dez anos, ao invés de simplesmente pedir para diminuir o volume.

Mas o melhor (e o mais triste) de This Is It é constatarmos que a volta de Michael Jackson aos palcos teria sido arrasadora. Seria um show incrível, com os maiores sucessos da sua carreira em performances de cair o queixo: uma perseguição em preto-e-branco com gangsters em "Smooth Criminal"; um exército virtual de milhares de homens em "They Don’t Care About Us"; uma indiazinha tentando salvar a floresta de uma escavadeira em "Earth Song" e um novo e espetacular vídeo em 3D para "Thriller", entre outras passagens antológicas. Que bom que é essa a imagem que vamos guardar do Rei do Pop. GGGG

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