
Começo esta resenha por discordar da classificação do filme, inclusive a que consta no roteiro de cinema da Gazeta do Povo. Almas à Venda não é comédia. Ao menos não é só comédia. A sinopse do filme da estreante Sophie Bartes pode dar uma ideia de descompromisso risível. Leia: "ator em decadência recorre a companhia de alta tecnologia que promete aliviar o sofrimento das pessoas extraindo suas almas." Como na vida nem tudo é o que parece ser, o longa toma como fio condutor essa situação absurda e por muitas vezes tão engraçada quanto um bom esquete de Mr. Bean para discutir a ansiedade e a descrença, dois males que estão com a bola toda, à solta por aí.
O escolhido foi Paul Giamatti (de Sideways, Entre Umas e Outras), um pouco mais gordinho, que se autointerpreta. Além de ansioso, o ator tem dúvidas sobre seu trabalho como Tio Vanya em uma peça de Chekhov. Ao ler um artigo da revista The New Yorker, vislumbra então uma solução: há uma companhia que extrai, congela e armazena almas, "tornando o ser humano mais leve".
Com um roteiro despirocado, que sugere surrealismo e bizarrices que lembram, ainda que com o auxílio de lupas, Quero Ser John Malkovich (1999), Giamatti se vê arrependido da extração. Ao tentar recuperar sua alma, descobre então um mercado negro do esquema, com sede na Rússia. E a partir disso a trama quase rocambolesca não espere um fim definitivo se desenvolve.
Como cada alma é singular e tem um conteúdo específico, sua forma também é única. Um dos momentos mais engraçados é quando Giamatti se depara com a sua, aquietada em um potinho de vidro. O grande mérito de Almas à Venda é se utilizar de filosofia barata e de situações nonsense para discutir ou sugerir a discussão sobre coisas mais sérias. A maioria das almas extraídas, por exemplo, são cinzas. Só aí já há algo em que se pensar. GGG1/2



