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Literatura

Devaneios sobre um mundo ideal e utópico

O escritor Guido Viaro lança site e o romance de idéias A Mulher que Cai

Uma professora de 49 anos, já aposentada, com três filhos e uma neta passa a se debater com inquietações que ela mesma não sabe como surgiram. "Eu deveria estar contente", diz, embora saiba que experimenta uma tristeza incontornável – que a faz desabar em lágrimas diante de detalhes insignificantes como o barulho do motor da geladeira ou o latido distante de um cachorro.

A mulher escapa da família em uma manhã de domingo para fazer um balanço de sua vida enquanto observa as pessoas no Passeio Público de Curitiba. Ela é a protagonista do novo romance de Guido Viaro, A Mulher Que Cai.

Bancada pelo próprio escritor, a obra será lançada amanhã, no Bar Ao Distinto Cavalheiro. Evento marca ainda a estréia do site pessoal de Viaro (www. guidoviaro.com.br), em que disponibiliza dois de seus livros – inclusive o mais recente – para acesso gratuito.

Curioso é que o autor é, até certo ponto, avesso a novas tecnologias. Resiste aos celulares e não costumava usar computadores. Seu romance anterior, Glória, foi escrito a mão, reescrito em folhas de papel almaço para só depois ser digitado. Para A Mulher Que Cai, o estágio intermediário – o do almaço – foi abandonado. Ele procura se habituar ao computador e está convencido de que a internet é uma ferramenta, essencial para estabelecer contato entre escritores e leitores. Embora defenda um racionamento no consumo de informações inúteis, das quais a internet está abarrotada, como forma de desenvolvimento pessoal.

A apresentação da sua página virtual é uma espécie de carta aberta, em que explica um pouco de sua história, de suas idéias e do percurso que fez até chegar à literatura. Viaro trabalha na administração de hotéis e como intérprete de uma agência de turismo, usando o próprio salário para pagar as tiragens de seus livros, o envio das obras para várias bibliotecas do país e, agora, a página online.

"Não vejo a literatura como um fim. Sou uma pessoa que acredita em suas idéias e acha importante contá-las ao mundo, mesmo que apenas uma em cada milhão de pessoas esteja disposta a ouvi-las", afirma. Para o autor, é mais importante influenciar de modo decisivo somente um leitor do que alcançar milhares superficialmente.

A Mulher Que Cai pode então ser definido como um romance de idéias. A narradora parte da insatisfação pessoal para imaginar como seria sua vida se pudesse ensinar novamente, mas "sem amarras institucionais que castram a verdadeira educação".

Essa educação teria de aliar as disciplinas do conhecimento com a natureza e a espiritualidade, em um ambiente capaz de incentivar a criatividade. A opção por uma narradora se deve ao fato de "as mulheres suportarem o maior peso social", lidando com inúmeras obrigações e limitações impostas pela sociedade.

À medida que imagina um "mundo ideal", a protagonista pensa no que diria aos seus alunos sobre um local "onde Deus é poesia e não patrão". Um lugar em que as diferenças se resolveriam graças à generosidade.

"Não quero ser um doutrinador e nem ter seguidores, essas idéias não são minhas e já foram ditas por muitas pessoas ao longo dos séculos de diversas maneiras. Quero ajudar, ser um instrumento de mudança que não espera e nem acredita em recompensas", define Viaro.

Entre os autores que admira, estão os poetas William Blake, Fernando Pessoa e Walt Whitman, e a fundadora do movimento teosófico Helena Blavatsky. Outra influência, claro, foi o avô, de quem carrega o nome e cujas obras permeam os escritos do neto. A capa de A Mulher que Cai, por exemplo, é um trabalho sem título do artista, definido como um dos introdutores do Modernismo nas artes paranaenses e lembrado também por ter fundado a primeira escola do país a ensinar artes para crianças.

Serviço: Lançamento de A Mulher Que Cai, de Guido Viaro (Edição do autor, 186 págs., R$ 20). Bar Ao Distinto Cavalheiro (R. Saldanha Marinho, 894), (41) 3019-4771. Amanhã, às 20 horas. Entrada gratuita.

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