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Música

Dinho e sua esfuziante melancolia

Vocalista do Capital Inicial lança álbum solo com releituras de hits sentimentais que vão de Pet Shop Boys a Muse

Dinho Ouro Preto destaca o caráter “didático” do novo disco | MRossi/Divulgação
Dinho Ouro Preto destaca o caráter “didático” do novo disco (Foto: MRossi/Divulgação)

Dinho Ouro Preto é um curitibano atípico: falante, sorridente, bem-humorado... "pra cima", enfim. De uma alegria e animação tão efusivas, que ele virou até personagem de stand-up comedy – Marcelo Adnet que o diga, com sua impagável imitação do hiperativo cantor do Capital Inicial. Mas ele acaba de lançar um álbum solo com 12 canções sentimentais, pungentes até. Mais: compostas por mestres da melancolia, como Morrissey (The Smiths), Ian Curtis (Joy Division) e Robert Smith (The Cure), entre outros. Assim é Black Heart, lançado este mês pela Sony Music (leia opinião no quadro ao lado).

VÍDEO: Confira a versão de Dinho para "Nothing Compares 2 you", sucesso na voz de Sinead O´Connor:

"Por quê?", perguntarão os admiradores da personalidade eufórica de Dinho no Capital Inicial. "POR QUÊ?", lamentarão os fãs das bandas e artistas "homenageados", como Patti Smith, Nick Cave, Leonard Cohen, Pet Shop Boys, Raconteurs, Eddie Vedder e Muse, além dos já citados.

Por telefone, Dinho explicou que o projeto nasceu de um desejo de se expressar de uma maneira totalmente diferente do que ele costuma fazer no Capital Inicial, mas sem precisar sair da banda – atitude que ele mesmo tomou entre 1993 e 1998, quando lançou dois discos solo que quase ninguém ouviu, Vertigo (1994) e Dinho Ouro Preto (1995).

"Trabalhar em grupo invariavelmente envolve algum tipo de renúncia", observa. "Você tem de chegar a um acordo com os seus companheiros, e com frequência se vê dando um passo atrás, em nome do consenso. Por isso, chega um dia em que você fica com vontade de brincar de pequeno imperador: fazer as coisas exatamente do jeito que você quer, sem consultar ou dar satisfações a ninguém."

Portanto, para conciliar os dois desejos – o de bancar o "Napoleão" e o de continuar cantando no Capital Inicial –, Dinho tomou alguns cuidados: "Para deixar claro que não seria uma ruptura, mas, que ao mesmo tempo, fosse bem diferente do Capital, eu enfatizei três aspectos: 1) eu não seria o compositor de nenhuma música do disco; 2) ele seria cantado em inglês; 3) ele seria menos ‘nervoso’, com menos guitarras do que o que a gente faz no Capital."

Estabelecidas as diretrizes, o próximo passo seria a escolha do repertório: "Quando a gravadora me perguntou o que eu gostaria de gravar, eu fui falando de supetão: Cure, Smiths, Nick Cave... mas me dei conta de que todos eles eram artistas dos anos 80, o que deixaria o disco datado. Então, eu passei a distribuir as faixas por décadas: dos anos 60 eu escolhi ‘Suspicious Minds’, gravada pelo Elvis; dos anos 70 a Patti Smith; dos anos 2000 o Raconteurs e o Muse... e aí fui quebrar a cabeça atrás de alguém dos anos 90, e optei pelo Eddie Vedder, cantando ‘Hard Sun’".

Desafio

Dinho diz ter consciência de que poderia estar mexendo num vespeiro: "Sei que muita gente acha que algumas dessas canções nunca deveriam ser regravadas por ninguém, muito menos por mim (risos)! Mas isso não deixa de ter um caráter desafiador", provoca.

O cantor também destaca o caráter "didático" do álbum: "O disco deve interessar aos fãs do Capital. Uma grande parte deles talvez não conheça esses artistas, e, ao ouvir o disco, vão procurá-los, buscar conhecer as gravações originais". Na outra ponta, estão os fãs radicais de quem gravou as canções: "Provavelmente, um fã roxo do White Stripes, do Muse ou dos Smiths não goste das minhas versões. Sempre vão ter os xiitas, mas a maior parte deles são pessoas com muito pouco senso de humor".

Lupaluna

Para o bem ou para o mal – conforme o seu grau de simpatia ou aversão por Dinho Ouro Preto –, a fecundação de Black Heart aconteceu em Curitiba. Mais precisamente, na madrugada do dia 15 de maio do ano passado, no BioParque, na terceira edição do Lupaluna: "O Marcelo D2 tocou depois da gente [Capital] naquela noite, e eu fiquei assistindo ao show da lateral do palco... e eu chapei com a banda dele! Depois do show, eu fui falar com eles, e foi ali que eu conheci o Mauro [Berman, baixista] e o Lourenço [Monteiro, baterista], que tocaram comigo no disco. Eu disse para a gravadora: ‘eu quero a banda do D2!’, e felizmente deu certo".

Black Heart - Dinho Ouro PretoSony Music. R$ 24,90. Pop-rock.

Confira a versão de Dinho para "Nothing Compares 2 you", sucesso na voz de Sinead O´Connor:

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