
Barulhento, desbocado, sujo, violento, talentoso, bem-sucedido. Alexandre Magno Abrão, o skatista e cantor Chorão, que alcançou sucesso nacional à frente da banda santista Charlie Brown Jr., era um ímã para adjetivos, geralmente extremos. Em 20 anos à frente do grupo, ele mudou a formação diversas vezes, expulsando e convidando quem quis, cantando para milhares de pessoas pelo Brasil e somando mais de 5 milhões de discos vendidos.
>> Assista ao vídeo da entrevista com Chorão no Lupaluna 2012
Nascido em São Paulo no dia 9 de abril de 1970, Alexandre Magno Abrão mudou-se para Santos em 1987, onde começou a se dedicar ao skate. Numa noite, subiu ao palco de um bar local para uma participação como cantor e acabou entrando no circuito roqueiro da cidade, ao lado do baixista Champignon (Luiz Carlos Leão), na época com 12 anos. Os dois formaram a banda Whats Up, que depois se transformou em Charlie Brown Jr., com a entrada do baterista Renato Pelado e dos guitarristas Marcão (Marco Antônio Britto) e Thiago Castanho.
Durante cinco anos, o Charlie Brown Jr. se apresentou no circuito alternativo de shows de Santos e de São Paulo, até ser descoberto pelo produtor Rick Bonadio. Transpiração Contínua Prolongada, estreia da banda, estourou com músicas como "Proibida pra Mim (Grazon)", "O Coro Vai Comê" e "Tudo Que Ela Gosta de Escutar" e ultrapassou as 500 mil cópias vendidas. Entre 1997 e 2012, o grupo lançou nove álbuns de estúdio, dois discos ao vivo, duas coletâneas e seis DVDs.
Morte
Chorão foi encontrado morto na madrugada de ontem, na cozinha do seu apartamento em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Ele tinha 42 anos. Inicialmente, a polícia descartou a hipótese de assassinato. A conclusão ainda depende do resultado do trabalho dos peritos.
A polícia disse ter encontrado na bancada da cozinha um pouco do que seria um pó branco e suspeita que a substância, encaminhada para a perícia, seja cocaína. Além disso, havia uma grande quantidade de medicamentos espalhados pelo local, latas de refrigerantes, energéticos, cerveja e garrafas de vinho.
A Polícia Militar afirma que recebeu um chamado às 5h18 de ontem para "verificação de morte natural". O apartamento, uma cobertura de 250 metros quadrados, estava revirado, com móveis quebrados. Para a polícia, os danos foram causados pelo próprio cantor, que tinha um dedo machucado. Havia marcas de sangue na parede, provavelmente por conta do ferimento em uma das mãos.
"Aparentemente não foi homicídio. O IML vai dar a causa da morte. Ou foi por uso de medicamento ou outra substância. Um vizinho disse que ouviu barulho de coisas quebrando, na manhã de ontem [terça-feira]. Ele tem apenas um ferimento aparente, em uma das mãos. Ele provavelmente se machucou ao tentar dar um soco no ar-condicionado", afirmou o delegado Itagiba Vieira, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
A presença do pó branco no apartamento consta no boletim de ocorrência registrado no 14.º Distrito Policial. Apenas o laudo da perícia pode confirmar se era ou não cocaína o resultado não havia sido divulgado até o fechamento desta edição. O corpo também passará por uma autópsia.
Chorão foi encontrado por seu motorista no chão da cozinha. O funcionário chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas a equipe constatou que ele já estava morto. Ele não morava no imóvel, usava-o eventualmente após shows. Familiares disseram à polícia que ele demonstrava sinais de depressão depois que se separou da sua segunda mulher, após 15 anos de casamento.
Chorão tinha um compromisso agendado para o meio-dia de segunda-feira, mas não saiu de casa. Um segurança esteve no apartamento para acompanhá-lo, mas tocou a campainha e ninguém atendeu. Preocupado, às 20 horas ele voltou e também não foi atendido. Na madrugada, retornou, desta vez com o motorista. Eles abriram o apartamento e encontraram o cantor no chão.
A banda estava em férias. Seu próximo show seria no fim do mês, em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Chorão tinha viagem marcada para os Estados Unidos nos próximos dias. O quinteto já tinha músicas prontas para um próximo disco.
O velório de Chorão foi realizado na tarde de ontem, na Arena Santos, na cidade do litoral paulista, e foi aberto ao público à noite. O sepultamento do cantor acontece hoje, às 15 horas, no Memorial Necrópole, também em Santos.
Polêmicas
Além da paixão pela música e pelo skate, Chorão também será lembrado pelo temperamento esquentado, que rendeu diversas brigas dentro e fora dos palcos:
Bronca em Champignon
Em setembro de 2012, durante um show do Charlie Brown Jr. em Apucarana, no Paraná, Chorão humilhou o baixista da banda, Champignon, com duras críticas feitas diante da plateia. "Você voltou por causa de dinheiro, não voltou porque queria tocar no Charlie Brown Jr.", acusou Chorão, referindo-se à volta do baixista para a formação, em 2011. Após cinco minutos de esculhambação filmados pelos fãs e disponível no YouTube Champignon abandonou o palco e a show continuou sem o baixista. Dias depois, os músicos fizeram as pazes publicamente.
Altas tretas
Em julho do ano passado, o vocalista discutiu com uma adolescente da plateia do programa Altas Horas, da Rede Globo. Uma estudante do Colégio Equipe perguntou para Chorão por que ele havia feito um comercial para uma marca de refrigerantes, já que se declarava "contra o sistema". O vocalista deu o troco na garota durante uma música, dizendo que "a patricinha da plateia usava piercings, roupas e até a calcinha comprada pelo papai". A adolescente respondeu com gestos obscenos e, diante de mais uma alfinetada de Chorão, começou a chorar. "A mina vem aqui no programa e quer me tirar em rede nacional? Na boa, eu pago as minhas contas", foi a justificativa dele após o término das gravações.
Magreza a jato
No início de 2009, Chorão deu um susto nos fãs ao aparecer na mídia pesando 40 quilos a menos. O cantor passou de 130 para 90 quilos em um período de seis meses, época de lançamento do 10º disco da banda, Camisa 10 Joga Bola até na Chuva.
Expulso de avião
Em 2008, Chorão foi expulso pela Polícia Federal de um voo que ia em direção a Manaus, no Amazonas. Segundo informações da companhia aérea Gol, ele teria se recusado a desligar um aparelho eletrônico e xingado a tripulação. O avião, que estava prestes a decolar, teve de voltar para área de embarque. Todos os integrantes da banda foram expulsos e seus equipamentos foram retirados da aeronave.
Demissão em massa
Em 2005, cansado das constantes brigas, Chorão demitiu todos os integrantes do Charlie Brown Jr. na época, Champignon (baixo), Renato Pelado (bateria) e Marcão (guitarrista) e contratou novos músicos para tocar no lugar deles.
Soco em Camelo
Em julho de 2004, uma briga de Chorão com Marcelo Camelo, vocalista da banda Los Hermanos, ganhou destaque na mídia nacional. Em um voo da Tam com destino a Teresina, no Piauí, onde as duas bandas se apresentariam em um festival, Camelo teria criticado a participação de Chorão em um comercial de refrigerantes. O vocalista do Charlie Brown Jr. se irritou e deu um soco em Camelo, que teve o nariz quebrado pela pancada. O avião teve de fazer escala em Fortaleza, onde foi registrada uma ocorrência.
Lupaluna 2012 | 1:47
Durante entrevista após o show histórico no Lupaluna, a banda Charlie Brown Jr. falou sobre o retorno da formação original do grupo e destacou a importância de um festival eclético como o Lupaluna.



