
A história da bizarrinha banda carioca Do Amor vai na contramão do que costuma acontecer com grupos de rock. O baterista Marcelo Callado, o baixista Ricardo Dias Gomes e os guitarristas Gabriel Bubu e Gustavo Benjão se conhecem desde a adolescência, trocam risadas e acordes há pelo menos 15 anos, mas só agora lançam seu primeiro disco de músicas próprias. O motivo é nobre.
Marcelo e Ricardo formam a Banda Cê, que acompanha Caetano Veloso há pelo menos três anos ou dois discos Cê e Zii e Zie. Gabriel Bubu foi baixista do Los Hermanos por algum tempo. E todos eles tocam na cena alternativa nacional com certa frequência, acompanhando artistas como Nina Becker, Jonas Sá, Rubinho Jacobina e Lucas Santtana. Precisavam, então, de um tempo para si. Para dar vazão ao que processavam após ouvir LPs comprados pela capa em sebos do Rio de Janeiro na década de 1990 alguns de forró e ao metal, ao punk e à country music presente nas respectivas discotecas do quarteto.
"Em 2006, resolvemos montar um projeto mais autoral, no qual finalmente pudéssemos tocar nossas próprias músicas. Tínhamos muitas canções e vontade de tocar. Não fazia sentido ignorar isso", explica Callado, de 31 anos. A maioria das 14 faixas já existia e são do tempo em que Callado, Bubu e Benjão formavam o grupo Carne de 2.ª. A última música do disco é uma releitura diferentona de "Lindo Lago do Amor", de Gonzaguinha, filho de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
O disco homônimo, lançado de forma independente pelos selos + Brasil Música e Estúdio 304 em CD luxo digipack, CD simples, LP e compacto, é um retrato maroto das referências criativas da banda, que vão da bagunça causada pelo carimbó de Belém do Pará, passando pelo mais tradicional rock inglês até se acabar em pura brasilidade. O rótulo "brega", ou "tecnobrega", já foi ventilado por aí. Mas seria superficial demais encaixotar Do Amor no gênero preferido de Reginaldo Rossi e da Banda Calypso. "O disco vai além disso", concorda o próprio baterista.
É muito possível que você ria em algum momento da audição de Do Amor. Letras quase sacanas, no limite do deboche, contempladas por músicos incontestáveis sugerem realmente algo original, que soube se aproveitar com bom gosto da riqueza da música, principalmente a da música brasileira.
"É o nosso jeito mesmo. Temos esse humor peculiar, mas levamos isso a sério. Não fazemos para ser palhaçada. Escrevemos de um jeito engraçado, mas o que está por trás não é gratuito", diz Callado, que não se preocupa com a primeira impressão que o trabalho possa causar em um ouvinte desavisado. "Da mesma forma que tem gente que pode achar bizarro ou que estamos de brincadeira, há muitos que gostam. Tudo foi ideia nossa e não nos privamos de usar nossos artifícios", explica o músico.
Do Amor tem outros bons cartões de visitas. Foi produzido por Chico Neves Lenine, Paralamas do Sucesso, O Rappa e Skank , e mixado na Inglaterra por Tchad Blake, que subiu e desceu botões enquanto trabalhava em discos de Paul McCartney, Tom Waits e Peter Gabriel.
Callado e Dias Gomes estão de "folga" da Banda Cê, já que Caetano Veloso encerrou a turnê de Zii e Zie e se prepara para produzir o novo disco de Gal Costa. Agora, finalmente, concentram energias em seu próprio trabalho. O show de lançamento acontece amanhã, em São Paulo, na companhia da curitibana Banda Gentileza. A troca de figurinhas acontece em Curitiba, dia 22 de outubro, no Jokers, quando os curitibanos recebem os cariocas. Antes, o bonde Do Amor ainda passa por Sergipe e Pernambuco.




