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Música

Documentário mostra Jota Quest como 'banda de verdade'

Jota Quest, sim, mas qual? A banda da propaganda de refrigerante, do tudo pelo sucesso, do verso risível "Um dia feliz às vezes é muito raro"? Ou a banda que se lança com sinceridade no palco, de músicos que gostam de música, do pop bem acabado? As duas. Ou simplesmente a banda, ponto. É assim que ela aparece no documentário "20%", de Bruno Natal, extra do DVD ao vivo "Até onde vai" (Sony BMG) - com o mesmo show que a banda apresenta nesta sexta e sábado no Oi Noites Cariocas. Ao registrar os bastidores da turnê e contar a história do quinteto, o filme sutilmente vai além e mostra que a explicação para o sucesso comercial deles é mais complicada que parece à primeira vista ( veja trailer ).

Já nos primeiros minutos, o produtor Liminha joga sua provocação: "A música pop é muito transparente, você não pode errar no primeiro compasso. Não é como o jazz". E completa, em seguida: "É difícil fazer música pop. Se não fosse, todo mundo fazia sucesso". A declaração pode ser simplista demais ao ignorar outros elementos da equação do sucesso, mas sua lógica é inegável.

O responsável por lançar um olhar diferente sobre o Jota Quest - sem a "babação" óbvia de vídeo oficial, apesar da inevitável abordagem positiva - é Bruno Natal. O diretor tem no currículo o ótimo "Desconstrução", documentário sobre os bastidores da gravação de "Carioca", de Chico Buarque. O trabalho com Chico chamou a atenção da banda mineira, que fez o convite. Natal lembra que a primeira reação ao receber a proposta foi de dúvida.

- Um amigo me falou: "Fazer documentário do Chico é mole, quero ver fazer do Jota Quest" (risos) - lembra o diretor, que teve a parceria de Rafael Mellin na ótima edição, que segue linguagem pop. - Porque a primeira coisa que muita gente pensa quando se fala na banda são aqueles hits que já estão cansados de ouvir. E um monte de preconceitos. Assim que surgiu a proposta, eles me convidaram para ver um show deles em São Paulo. Fiquei impressionado com a força do show. E depois, no camarim, as pessoas curtindo aquilo, se abraçando, a bebedeira. Era uma banda de verdade, completamente diferente da idéia de algo fabricado.

É uma "banda de verdade", portanto, que aparece no documentário. Os músicos relacionam-se mais como amigos que como simples colegas profissionais. Discutem sobre arranjos no estúdio e sobre problemas no palco - o baixo com um volume alto demais, por exemplo, gerou um bate-boca pós-show. Espiam pela fresta da cortina e empolgam-se com a casa cheia. Falam da insatisfação com canções que já gravaram e o vocalista Rogério Flausino comenta a frustração por não ter conseguido fazer letras à altura de algumas músicas (e tê-las gravado assim mesmo).

As críticas negativas na época do CD "Oxigênio" e o surgimento da imagem de banda-armação também aparecem no filme. O disco chegou às lojas depois do saturador sucesso de "Fácil" e da (na época) polêmica participação do grupo numa propaganda da Fanta - hoje é comum vermos artistas como Bob Dylan se permitindo vender sua imagem e música para a publicidade. Em tom confessional, Flausino comenta que esses episódios (Fanta e "Fácil") geraram má vontade da imprensa e críticas violentas: "Foi a pior época da minha vida". E admite que a banda errou em fazer "Oxigênio" com pressa para aproveitar a onda de popularidade.

- Foi um assunto delicado, falar dessa época incomodou - conta o diretor. - Eles perguntavam: "Você vai partir para esse lado?". Mas no fim entenderam que não se podiam ignorar essa parte da história deles. No fim, não houve assunto proibido.

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