• Carregando...

Uma grande sala do Museu da Língua Portuguesa foi transformada em um imenso gaveteiro. São 2.000 gavetas cobrindo as paredes laterais, mas só 65 delas têm chaves. As pessoas podem explorar à vontade o espaço, subindo uma escada ou sentando em bancos estofados, para descobrir quais delas podem ser abertas. Dentro, estão tesouros.

- É uma caixa de jóias. Clarice Lispector deixou algumas chaves para nós. As outras ela levou com ela - diz Júlia Peregrino, curadora da exposição "Clarice Lispector - A Hora da Estrela", que agora ocupa o primeiro andar do Museu da Língua Portuguesa.

A exposição revela a obra da escritora naturalizada brasileira, que nasceu na Ucrânia em 1920 e morreu há 30 anos.

A assistente social Rosilene Rocha, de 41 anos, ficou deslumbrada com o gaveteiro.

- Poder ver o acervo de cartas pessoais de Clarice é maravilhoso. A maneira com que a exposição foi montada é muito instigante. O que mais gostei foi o gaveteiro. Mas os fragmentos de textos da escritora espalhados por várias partes da mostra também causam grande impacto - disse Rosilene.

O ponto alto da mostra é fugir do didatismo e do tom professoral que costuma rondar este tipo de exposição. Errar na mão significa não só deixar de atrair leitores, mas desagradar os que já são fãs.

A mostra sobre Clarice Lispector foge do lugar comum e pode ser lida e explorada.

- Estamos lidando com a palavra. Não há nada de concreto para mostrar - diz Júlia, que convidou Ferreira Gullar para fazer com ela a curadoria e Daniela Thomas para a cenografia.

O primeiro passo foi fazer uma seleção de frases da obra de Clarice. Em seguida, foram selecionados documentos da escritora na Fundação Casa de Rui Barbosa.

Para o ilustrador Rafael Mathias, de 24 anos, a mostra estimula a curiosidade. Henrique Lorenzetti Ribeiro de Sá, estudante de 22 anos, fez críticas.

- É um festival de frases desconectadas, sem contexto. Até acho que cada frase tem um valor, mas seria bom que ela viesse depois de uma apresentação da obra. De todo modo, valeu por causar um estranhamento. Nunca li Clarice Lispector. Mas pelas frases, fiquei com vontade de ler "A descoberta do mundo" - disse Henrique.

A namorada de Henrique, Maria Laura Sanchez, hoteleira, de 23 anos, disse que a exposição a deixou com vontade de ler "A paixão segundo G.H.".

Enquanto o público explora o imenso gaveteiro e encontra fotos, cartas, manuscritos, originais, documentos pessoais e livros ouve a voz de Clarice. A imagem dela está projetada no fundo da sala.

O que se ouve é a última entrevista da escritora, dada à TV Cultura em 1977, pouco antes de morrer. Clarice só deu a entrevista com uma condição, que ela fosse ao ar após sua morte. Pouco depois de gravada, a escritora faleceu.

- Na exposição, editamos e entrevista, tirando as imagens e a voz do entrevistador. Só vemos e ouvimos Clarice. Daí a ilusão de que ela está presente na sala - explica Júlia.

Em um corredor, TVs levam o público para dentro da exposição. Transeuntes do Jardim da Luz, que fica em frente ao Museu da Língua Portuguesa, foram convidados a ler trechos de "A hora da estrela" para criar uma vídeo instalação para a mostra. Muitos deles nunca tinham lido nenhuma obra de Clarice Lispector.

- Alguns já visitaram a exposição e ficaram muito emocionados ao se verem - contou a curadora.

Quem passar por São Paulo até o dia 2 de setembro, terá a oportunidade de conferir a mostra, no Museu da Língua Portuguesa, instalado na Estação da Luz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]