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Livro

É possível dialogar com pontos de vista opostos

Conversa sobre a Fé e a Ciência reproduz o que Frei Betto e Marcelo Gleiser disseram durante um encontro promovido pela editora Agir em julho de 2010

Frei Betto e Marcelo Gleiser falam de suas trajetórias, discutem ciência fé e outras questões, como o início e o fim do mundo | Bruno Veiga/Divulgação
Frei Betto e Marcelo Gleiser falam de suas trajetórias, discutem ciência fé e outras questões, como o início e o fim do mundo (Foto: Bruno Veiga/Divulgação)
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A editora Agir está com um projeto no qual dois autores brasileiros são convidados para passar alguns dias em um hotel, distantes dos ruídos das grandes cidades. Durante o retiro, as conversas são gravadas e publicadas em formato de livro. O primeiro da série foi Conversas sobre o Tempo, com Zuenir Ventura e Luis Fernando Verissimo, com medição de Arthur Dapieve. Ventura e Verissimo conversaram sobre a vida, a arte de escrever e outros assuntos. Ao folhear o livro, o leitor pode ter a impressão de que está escutando um bate-papo inteligente e bem-humorado.

Agora, acaba de ser publicada a segunda obra do projeto: Conversa sobre a Fé e a Ciência, resultado do encontro de Frei Betto com Marcelo Gleiser. Diferentemente do que aconteceu no livro anterior, que aproximou dois amigos jornalistas e escritores, dessa vez a interlocução foi entre dois sujeitos radicalmente diferentes e sem laços afetivos.

Betto é um frei dominicano, que escreve e publica livros e já sentiu o "sabor" do poder, incluindo uma temporada em Brasília durante o governo Lula. Judeu, Gleiser é um físico que reside e leciona nos Estados Unidos, também tem obras publicadas e ainda toca violão. Falcão, o mediador, por sua vez, é um músico, escritor e astrólogo, que flerta com o misticismo e simpatiza com o imaginário de Allan Kardec.

A interação entre Betto e Gleiser, que poderia ter sido tensa, pela diferença de visões de mundo, foi a mais cordial possível e, do início ao fim, eles dialogam tentando responder duas das questões que desde muito desafiam o ser humano: De onde viemos? Para onde vamos?

Em determinado momento do encontro, Gleiser pergunta a Betto: o que você acha da clonagem? O frei e escritor responde: "Sou inteiramente contra em seres humanos. Deveria haver um acordo mundial contra essa abominação. Não sou contra a clonagem de animais, mas clonar ser humano." Em seguida, o físico quer saber o que Betto pensa sobre as células-tronco. "Sou a favor das células-tronco. E agora mais ainda, porque você tem células-tronco que, necessariamente, não são re­­tiradas de feto", diz Betto.

Imediatamente, Gleiser comenta: "Você é um frei iluminado!".

Esse trecho ajuda a entender como foi o diálogo entre duas personalidades tão diferentes uma da outra.

Betto diz qual é a diferença en­­tre cultura e entretenimento: "A diferença entre cultura e entretenimento é que a cultura fala ao espírito e à consciência, e o entretenimento, aos sentidos." Gleiser, por sua vez, defende o desequilíbrio: "De imperfeição e um pouco de atrevimento, um pouco de inquietude, um pouco de desequilíbrio é fundamental para a humanidade também. Porque se tudo estivesse certinho...".

Em Conversa sobre a Fé e a Ciência, durante os "desvios" dos temas propostos é que surgem as ideias instigantes, a exemplo do que se dá nos encontros cotidianos – e esse é o ponto alto do livro, além do respeito que Betto demonstra por Gleiser, e vice-versa. GGG

Serviço: Conversa sobre a Fé e a Ciência, com Frei Betto e Marcelo Gleiser. Mediação de Waldemar Falcão. Agir, 336 págs., R$ 44,90. Depoimentos.

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