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Antônio Saraiva | Divulgação/FCC
Antônio Saraiva| Foto: Divulgação/FCC

Depois de virar um hit pirata, "Tropa de elite" enfim chega aos cinemas em versão oficial. O longa-metragem inaugura nesta quinta-feira (20) o Festival do Rio, em noite de gala para convidados, e será exibido para o público na sexta, numa sessão que teve os ingressos esgotados em uma hora.

Depois de ter parte da equipe seqüestrada e as armas cenográficas roubadas durante as filmagens, o diretor José Padilha teve que enfrentar o roubo de uma cópia não-finalizada do filme, que caiu na mão da pirataria. Logo, o longa se tornou um fenômeno de vendas em camelôs e de download na internet.

Em entrevista ao G1, Padilha quebra o silêncio e fala sobre o longo percurso, cheio de obstáculos, que a produção enfrentou até chegar à tela grande. "Os bastidores desse filme dão um outro filme, com certeza", brinca o diretor. "‘Tropa’ já é um sucesso informal, agora vamos ver se também vai ser um sucesso formal", diz.

Leia a seguir trechos da entrevista, em que Padilha revela detalhes de bastidores, comenta a reação do Batalhão de Operações Especiais do Rio (Bope) e desfaz alguns mitos que surgiram acerca da produção.

G1 – Como é ver "Tropa de elite" finalmente chegar ao cinema?José Padilha – Me sinto muito bem. Tenho, acima de tudo, a sensação de dever cumprido. Aliás, não só eu, mas a equipe toda. Os bastidores desse filme dão um outro filme, com certeza.

G1 – Na sua opinião, a pirataria foi positiva ou negativa para a divulgação do longa?Padilha – Não sei, sinceramente, não sei. Gostaria muito de saber. O fato é que o filme virou realmente um fenômeno de cultura de massa, mas como isso vai afetar o lançamento é uma incógnita. Já conversei com muitas pessoas entendidas dessa área. Algumas me dizem que isso é ótimo, que só vai ajudar. Outras dizem que os cinemas estarão vazios depois da primeira semana, que não vai ter sustentação. Já ouvi muitas opiniões diferentes, mas ainda não tenho a minha.

G1 – Há muita curiosidade em torno da versão final do filme. Existe um boato de que tem mais 40 minutos com novas cenas...Padilha – Não, claro que não. Isso seria absurdo, ficaria muito longo. O filme ficou com poucos minutos a mais, mas a principal diferença não está aí. Eu diria que a versão final é uma outra experiência. Muita coisa foi refeita: música, narração, finalização, colorização, mixagem de som. Para mim, é muito diferente. Os processos que foram feitos depois daquela cópia somam mais de R$ 800 mil. E isso faz diferença.

G1 – É verdade que o Bope tentou censurar determinadas cenas ou proibir o lançamento do filme?Padilha – Não, o Bope não fez essa pressão. O que aconteceu foi que alguns policiais entraram com uma ação na Justiça para impedir a estréia do filme. Mas a juíza vetou, já que o Brasil é um país onde há liberdade de expressão. Eles têm o direito de processar, é claro, e eu tenho direito de lançar meu filme. Isso é normal para mim, já era esperado.

G1 – Como foi a preparação do elenco?Padilha – Teve dois elementos nesse processo: o primeiro foi o trabalho da Fátima Toledo, que também trabalhou em "Cidade de Deus". Ela tem um enorme talento para preparar atores e não-atores, mas é um curso puxado, rígido. O outro elemento é o "estágio" que 20 atores fizeram com policiais do Bope. Em 20, 30 dias, eles tiveram de absorver os hábitos daqueles homens, a forma de andar, correr, atirar, falar. Foi muito duro, porque exigia muito deles em termos físicos e emocionais. Mas não tinha outro jeito. Eles foram muito fortes.

G1 – Por que você decidiu filmar os bastidores da polícia?Padilha – Acho que existe um paralelo entre "Tropa" e "Cidade de Deus". O jeito que a gente filmou não é nada parecido de um ponto de vista estético, mas de alguma forma os dois filmes falam de um mesmo universo. Ao ver filmes brasileiros sobre violência, constatei que todos eles eram narrados da perspectiva daquele que é marginalizado, ou seja, do criminoso ou do morador de favela. Mas, ao meu ver, você não consegue compreender a nossa situação de segurança pública sem antes entender o funcionamento da polícia. É preciso entender a polícia. Ninguém nunca tinha falado da polícia, o que é muito estranho, já que têm filmes americanos, franceses, italianos, do mundo todo que tomam esse lado. Achei que faltava um brasileiro.

G1 – Como atrair o público que já assistiu ao filme na versão pirata para os cinemas?Padilha – Digo para todos que esse sim é o filme de verdade. Acho errado ver cópia pirata, mas entendo que seja tentador. Mas quero que as pessoas saibam que aquele não é o filme final, como ele deveria ser.

G1 – Mas você não fica feliz de saber que, antes mesmo de ser lançado seu filme já é um fenômeno?Padilha – É bom saber que as pessoas gostaram, mas ainda quero ver no que isso vai dar. "Tropa" já é um sucesso informal, agora vamos ver se também vai ser um sucesso formal.

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