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Em busca do timbre perfeito

Com 17 anos de carreira, DJ Leozinho fala de sua iniciação na música eletrônica e dos perrengues para manter o nível profissional na época dos “reis do camarote”

 | Antônio More/ Gazeta do Povo
(Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo)
DJ Leozinho em seu estúdio, atrás do timbre inédito |

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DJ Leozinho em seu estúdio, atrás do timbre inédito

Dos três filhos da família Arlant, o caçula era o que levava menos jeito para a música. O mais velho, Pedro, jornalista, tocava guitarra em bandas de rock. Marcelo é multi-instrumentista: se vira bem no violino, sax, bateria... Porém, preferiu a carreira de engenheiro civil. O mais novo, Leonardo, tentou estudar piano e guitarra, mas não evoluiu. "É que eu sou canhoto, é preciso adaptar os instrumentos e fica mais difícil", defende-se, brincando.

Porque "a vida dá voltas", foi ele quem se tornou profissional na música. Começou em 1995, quando o então roqueiro (fã de Jimi Hendrix e The Doors) passava uma temporada em Londres.

"Me levaram numa balada em um clube de música eletrônica. Eu vi aquela moçada com roupa diferente, o bar sem cerveja e pensei: ‘isto não é para mim, vou embora daqui’", lembra.

Em pouco tempo, porém, a batida mudou a rota de sua vida. "Quando eu vi, ‘tava lᒠno meio da galera. Fiquei alucinado. Não entendia de onde vinha a música. Levei um tempo para assimilar", admite.

Pouco tempo também para, depois de conhecer o caminho das pedras dos clubes e lojas de discos londrinas, o fascínio virar profissão.

De volta a Curitiba no ano seguinte, DJ Leozinho tornou-se residente na extinta Rave e, desde então, são 17 anos como um dos nomes mais importantes da música eletrônica nacional.

Atualmente, Leozinho é residente do clube Warung, em Balneário Camboriú (SC), para onde migrou boa parte da cena eletrônica curitibana.

Viaja o Brasil todo com três projetos paralelos e já tocou em festas nos Estados Unidos, Europa, China e vários países da América Latina.

"O Brasil é um dos melhores cenários do mundo para trabalhar. Por isso a gente tem a impressão de que alguns DJs gringos não saem daqui. Aqui se paga bem e o público é quente", compara.

Com a experiência de quase duas décadas na noite, Leozinho afirma que viu a cena "mudar para pior" com a proliferação de DJs celebridades com pouca afinidade com o métier. "Estamos no tempo do glamour. Hoje em dia, em alguns clubes, as áreas vip e os camarotes são maiores que a pista", indigna-se.

Para ele, o segredo da "balada perfeita" é um "público bom, um lugar agradável com algum nível de conforto e claro, o som. A vibe é o que conta, na real, e aí que entra o DJ", diz.

Leozinho também critica a própria classe e alguns colegas que buscam o sucesso comercial pelo meio mais fácil.

"Veja a música eletrônica francesa. O [duo] Daft Punk faz um pop de alta qualidade, ousado e inovador. E fez o disco do ano [Random Access Memories], mostrando que há luz no fim do túnel", disse.

Garimpagem

Quando está em Curitiba, Leozinho passa as tardes em seu estúdio no Jardim Social ouvindo milhares de músicas para suas mixagens.

"Preciso descobrir a música que seja boa e também a que não esteja à mão de todos, para que seja um diferencial do meu trabalho. É preciso fazer a garimpagem em dois níveis", explica.

"A regra é sempre procurar um timbre que nunca se escutou. Se você já ouviu antes, descarte", recomenda.

Esvaziada, cena local migrou para Santa Catarina

A cena curitibana de música eletrônica no final dos anos 1990 chegou a ter uma dezena de clubes de estilos diferentes e festivais regulares. Atualmente, porém, é quase inexistente.

Com o fechamento da Liqüe, no ano passado, restaram alguns poucos clubes com programação bissexta.

"Toco pouco em Curitiba, principalmente na Vibe, que é um último reduto da música eletrônica underground", disse Leozinho.

Para o presidente da Associação de Bares, Restau­­rantes e Casas Noturnas (Abra­­bar), Fábio Aguayo, a cena local se "apagou". "Restaram apenas a Vibe, a Duc e as casas que apostam no público LGBT como Simão, James e VU", explica.

Segundo Aguayo, vários fatores somados produzem o esvaziamento. "Há o efeito ‘boate Kiss’, que afetou todo o setor. A burocracia municipal dificulta ao máximo manter casas com música ao vivo. O público também está disperso, os jovens não se entusiasmam tanto e o pessoal de mais poder aquisitivo vai para o litoral catarinense", explica.

Para Leozinho, "Santa Catarina está para a música eletrônica brasileira como Ibiza está para a Europa". "A diferença é que Ibiza é um destino de verão e em Santa Catarina rola o ano inteiro", compara.

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