
Mario Moreno era um grande improvisador, especialmente quando se dedicava a brincar com as palavras. Seu próprio nome artístico, Cantinflas, surgiu a partir de uma provocação vinda da plateia de um teatro popular, no início de sua carreira En la cantina, inflas!, teria gritado um espectador, dirigindo-se ao artista (sendo inflar algo como encher a cara).
Isso no México dos anos 1920. Dali até a década de 1980, poucos humoristas tiveram tanta popularidade em casa e além das fronteiras de seu país. Cantinflas, superprodução mexicana que estreia hoje no circuito, recupera os principais momentos dessa trajetória, de um jeito careta e um tanto oficialista, mas com ótima atuação do galã espanhol Óscar Jaenada.
O ator encarna o personagem em seus inúmeros trejeitos, incluindo a compleição física do jeca Peladito, uma espécie de vagabundo chapliniano com algum complexo de inferioridade mas sem travas nos comentários que profere. A narrativa revê a carreira de Cantinflas desde o princípio até a consagração em Hollywood, quando ganhou o Globo de Ouro de melhor ator cômico por A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956).
Cantinflas ainda levaria seu Peladito a outra produção norte-americana (Pepe, de 1960), mas seu lugar era no México, onde tinha liberdade para gerenciar seus projetos e se sentia amado de maneira irrestrita pelas massas. É ao citar as razões para o comediante não seguir carreira nos EUA que o diretor Sebastian del Amo escancara a reverência exagerada para com seu personagem embora, antes disso, tenha abordado o quanto a fama mexeu com o sujeito de origem humilde que passou a ter um país a seus pés.
Outro problema do filme é deixar de lado o caráter político de Peladito, que com suas ousadas brincadeiras era capaz de destituir intelectuais e burgueses de sua pose de superioridade, para a desforra do povão que o venerava. Em compensação, não faltam citações anedóticas, que envolvem nomes como Elizabeth Taylor e Charlie Chaplin, para quem o mexicano era nada menos do que "o maior comediante do mundo".



