Dez anos depois, a Brasília amarela volta a abrir suas portas. O grupo Mamonas Assassinas, cujos integrantes morreram num acidente aéreo na Serra da Cantareira em março de 1996, retorna às lojas num CD ao vivo - a data prevista para o lançamento é agosto. O registro, encontrado nos arquivos da EMI, foi gravado para uma rádio e inclui, além dos sucessos do único trabalho do grupo, uma versão à la Mamonas para "Twist and shout", que virou "Não peide aqui, baby", tocada em shows mas inédita em disco.
O registro é uma tentativa da gravadora resgatar pelo menos uma parcela do sucesso que a banda fez no meio dos anos 90 - com menos de um ano de lançamento do disco, eles conseguiram vender mais de 2 milhões de cópias. Praticamente todas as músicas do disco tocaram nas rádios, não era raro o grupo ser visto em dois canais de televisão ao mesmo tempo, com Faustão e Gugu disputando a tapa os pontos de audiência trazidos pelo grupo. Até hoje, canções como "Robocop gay" e "O vira" estão entre as mais requisitadas em videokês - prova de popularidade espontânea, que independe de estratégia de divulgação ou "jabá". Mais tarde, "Pelados em Santos" chegou até a ser gravada pelos Titãs, em 2000, no CD "As dez mais".
O fenômeno Mamonas veio de uma união de acaso, talento e até de fatores econômicos. O acaso, porque o grupo nasceu como uma brincadeira nos intervalos da gravação da banda "séria" Utopia, uma tentativa maçante de emular Legião Urbana. Já o talento para divertir com essa brincadeira, misturando referências, era inegável. A economia entrou na equação pelo Plano Real - a estabilidade permitiu que as classes C e D tivessem acesso, por meio da compra à prazo, aos aparelhos de som, provocando a explosão de artistas de apelo mais popular, como É O Tchan e Molejo.
Questionava-se se o grupo - Dinho (voz), Samuel Reoli (baixo), Júlio Rasec (teclados), Sérgio Reoli (bateria), Bento Hinoto (guitarra e violão) - teria fôlego para um segundo disco ou soaria como piada contada pela segunda vez. Foram lançados algum trabalhos póstumos. Em 1998, a EMI fez chegar às lojas "Atenção Creuzebeck: a baixaria continua", com sobras de estúdio, registros ao vivo e gravações da época do Utopia. Em 2003, foi lançado o DVD "MTV na estrada", que acompanha a banda em apresentações pelo Brasil.
O registro do CD ao vivo que será lançado agora passou por um processo de restauração para ficar com qualidade suficiente para chegar às prateleiras. Na apresentação, os músicos fazem piadas entre as músicas e brincam uns com os outros. O destaque é claro, fica, com a inédita "Não peide aqui baby", exemplo do humor pré-adolescente que era ingrediente de muitas músicas do grupo. A capa traz um desenho dos integrantes do Mamonas em cima de uma nuvem, no céu.
Além do disco, outro projeto promete chamar atenção para o grupo. "Mamonas Assassinas - O filme" (ficção baseada na biografia "Blá blá blá", de Eduardo Bueno) está em fase de produção. A pergunta que se faz é: passada uma década, o humor mamônico ainda faz sentido? Vamos conferir em breve, mas uma coisa é certa: em tempos de Crazy Frog, Mamonas Assassinas podem até tirar onda de Beatles.
