
Ainda não se chegou a um consenso sobre como a obra Cinquenta Tons de Cinza, romance de estreia da escritora britânica Erika Leonard James, conseguiu a popularidade e a repercussão de que vem desfrutando no mundo ocidental. A ex-executiva de tevê, 49 anos, casada e mãe de dois filhos, já é considerada pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes de 2012, numa ascensão midiática meteórica que começou de maneira modesta. Fã dos livros infantojuvenis Crepúsculo, da americana Stephenie Meyer, Erika publicou os primeiros trechos de Cinquenta Tons de Cinza em um site de fanfics (histórias criadas pelo público) da série, inspirada por seus personagens principais, a adolescente Bella e o sedutor e misterioso vampiro Edward.
O romance erótico que conta a relação conturbada e sadomasoquista entre a jovem e virgem Anastasia Steele e o misterioso, atraente, bilionário e igualmente jovem Christian Grey, teve a inesperada projeção em grande parte por causa da plataforma virtual. Editado inicialmente em formato de e-book, circulou em kindles e tablets que, mais discretos que os livros, impediam um possível constrangimento por parte dos leitores mais tímidos. No momento em que chegou ao papel, a obra já havia virado uma trilogia complementada por Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade (já em pré-venda no Brasil) e era um sucesso estrondoso entre o público. Vendeu 31 milhões de cópias em inglês, sendo 20 milhões apenas nos Estados Unidos e, meio milhão de exemplares por semana na Inglaterra, tornando-se o livro mais comercializado da história de todo o Reino Unido: alcançou a marca de 5,1 milhões, somando-se livros físicos e virtuais, e superou as vendas do último livro da série Harry Potter (4 milhões), de acordo com a editora Cornerstone Publishing, que publicou a obra no exterior.
O principal público-alvo da escritora são as mulheres adultas, o que rendeu ao romance o rótulo de "mommy porn" ("pornô para mamães"). O rompimento com as temáticas das séries de sucesso para adolescentes despertou a curiosidade da imprensa e levantou questões a respeito do desejo feminino. Afinal, o que há de tão atraente na leitura de Cinquenta Tons de Cinza?
Talvez a hipótese mais segura e neutra resida no preenchimento de um nicho literário relegado ou a obras mais chulas e obscuras, ou a autores mais consagrados e cerebrais, como o cubano Pedro Juan Gutierrez e a francesa Anaïs Nin, ou a uma morna subliteratura de banca de jornal os clássicos livrinhos Julia, Sabrina, Samantha e similares. O equilíbrio entre tórridas cenas sexuais e uma aura inocente e romântica, que se reflete na linguagem narrativa, garantiu a aproximação sem medo de leitoras que querem ler sobre sexo, mas com classe. Enfim, um best seller erótico.



