
Em dezembro, um dos bares mais queridos da cidade vai deixar de existir: o Era Só o que Faltava será demolido para abrir espaço para um prédio, a ser construído no terreno ocupado hoje pelo bar e por uma fábrica de escadas, na Avenida República Argentina. Mas a especulação imobiliária não é a única razão para o fim do espaço cultural, que desde julho do ano 2000 agita a região com shows, festas, exposições, peças de teatro e espetáculos de humor: entram na conta também a desilusão e o cansaço do proprietário, Odilon Merlin.
"O principal motivo para fechar é o imóvel ter sido vendido", confirma ele. "A partir de janeiro, eu teria mais de 200 vizinhos aqui do lado, e não tenho mais paciência para ficar brigando com eles por causa do barulho. Além disso, tem o cansaço da noite depois de 11 anos, e um certo desapontamento com algumas situações da vida noturna de hoje."
Entre essas situações estão a febre do sertanejo universitário e a decepção com as autoridades municipais: "Essa onda do sertanejo levou uma parcela considerável dos universitários e da elite pensante da cidade. Além disso, eu me desiludi com as autoridades, principalmente a prefeitura de Curitiba e o Ministério Público", diz Odilon.
Segundo ele, a prefeitura prejudica o negócio pelo excesso de burocracia, pela morosidade nos trâmites de regulamentação e por ações de fiscalização que considera arbitrárias e truculentas, enquanto o problema do MP seriam as ações contraproducentes, como a da meia entrada. "Eles demoram uma eternidade para liberar a documentação, mas são bem ágeis para autuar quem está sem o alvará definitivo e fechar as casas nas Ações Integradas de Fiscalização Urbana. O sistema te empurra para a ilegalidade e privilegia os maus empresários", desabafa.
A noite de despedida do Era Só o que Faltava está programada para sexta-feira, dia 23 de dezembro, mas a casa pode ter uma sobrevida até o fim do ano. "Como eu tenho tido uma procura grande, talvez abra ainda depois do Natal", cogita Odilon. Pelo pequeno palco do Era já passaram grandes artistas nacionais e internacionais tanto músicos, como Jards Macalé, Jorge Mautner, Marcelo D2, Demônios da Garoa, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Otto, Mundo Livre S.A., Tiê, Cat Power, Cansei de Ser Sexy, Nada Surf etc., quanto atores e humoristas, como Diogo Portugal, Adriana Birolli e Alexandre Nero. É mais um holofote que se apaga na combalida cena cultural de Curitiba.
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