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Escrever com a luz

Profissionais premiados discutem a iluminação como elemento essencial da narrativa teatral e encontro reúne nomes importantes para discutir tecnologia teatral

O premiado iluminador paranaense Beto Bruel: “busca pela perfeição só é possível com muito trabalho e muito amor pela luz” | Marcelo Elias / Gazeta do Povo
O premiado iluminador paranaense Beto Bruel: “busca pela perfeição só é possível com muito trabalho e muito amor pela luz” (Foto: Marcelo Elias / Gazeta do Povo)

Há um paradoxo no trabalho do iluminador de uma peça de teatro: caso seja bem feita, a iluminação passa despercebida pelo espectador médio. Isso porque uma boa luz, além da função básica de iluminar atores e cenário, deve entrar em harmonia com o texto e cada cena, e aparentar naturalidade na obra.

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É a opinião da atriz, diretora e iluminadora Nadja Naira. Para ela, a luz de uma peça é preponderante para a interpretação do texto por parte do público. "O que o espectador vai ver da peça está condicionada à iluminação. Assim como a câmera trabalha no filme, a luz também conduz o olhar do espectador: destaca um objeto, uma cena, um personagem, sempre de acordo com a proposta do diretor", explica.

E assim como as câmeras de cinema, os aparatos de iluminação talvez sejam os que mais evoluíram tecnologicamente no teatro. A variedade de recursos é enorme e a cada ano novos equipamentos chegam ao mercado. Por isso, Nadja conta que existem duas vertentes na iluminação de teatro. Uma é o espetáculo das luzes, um show à parte; outra, a sua e de seus mestres na área, é o trabalho sutil de luzes e sombras que servem como apoio.

"É preciso ter cuidado, saber usar e não ficar preso à luz nem se ver obrigado a usar todos os recursos. É preciso trabalhar junto com a trupe, não dá pra sair na frente. No fim, a luz é mais uma ferramenta que eu uso para dizer o que eu quero", diz Nadja.

Existem diversos caminhos possíveis para a formação de um bom profissional de iluminação, mas a formação técnica da categoria é essencial. É a opinião do premiado iluminador Beto Bruel. Ele, que já conquistou três prêmios Shell de Teatro na categoria pelos espetáculos Não Sobre o Amor, Avenida Dropsie e A Memória da Água, todos dirigidos por Felipe Hirsch, acredita que o Brasil carece de mais cursos para iluminador, montador e operador de iluminação.

"O teatro cresceu muito nos últimos anos, e hoje o Brasil passa por uma escassez de técnicos bem preparados. Eles precisam se manter atualizados com as novidades no mercado, e começar por baixo, carregando fios. Só depois, com a prática, os técnicos passam a operar a mesa, a subir escada". A empresa de Bruel, a Tamanduá Som e Iluminação, é responsável pela luz de 32 espetáculos desta edição do Festival de Teatro, e os técnicos da empresa, segundo ele, levam em torno de três anos para se formarem iluminadores profissionais.

Já para Jorginho de Carvalho, considerado o pai da iluminação de teatro no Brasil, a principal forma de aprendizado é a prática. Professor do curso de cenografia na Universidade do Rio de Janeiro (Unirio) há 25 anos e jurado por dois anos do prêmio Shell de Teatro, Carvalho é autodidata em sua área. "Ainda acho que a escola mais forte do mundo é acompanhar o mestre, seguir seus passos. É a forma mais antiga de aprender e nunca vai morrer", acredita.

Ele é responsável pela iluminação do espetáculo Tathyana (confira o serviço completo do espetáculo), de Deborah Colker, e acredita que, na dança, a luz é indispensável. "Quando você anda numa rua sem luz, você sente medo, se sente inseguro, e essas sensações são transponíveis para o teatro. Aumentando a luz você realça uma cena, diminuindo você causa mistério, por exemplo. No caso da dança, a iluminação sublinha a música, como se fosse sua linguagem de sinais", explica.

Por último, Nadja Naira acrescenta mais um elemento importante para o bom iluminador: a formação artística. "Muito iluminador fica preocupado só com a técnica. A prática também é fundamental, mas eu acho que falta uma coisa muito importante, que é um conhecimento histórico, uma formação mais artística, que tenha uma relação mais direta com cenário, figurino e texto", comenta.

Todos os três, porém, ressaltam que, antes de tudo, é preciso paixão. "Como em qualquer profissão, você tem que gostar do que você faz. Tem que gostar de iluminação, ter o dom, e a dedicação também é fundamental. Como o teatro é ao vivo, você tem uma hora para não errar. Essa busca pela perfeição só é possível com muito trabalho e muito amor pela luz", conclui Bruel.

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