
Qual a relação de A Ilíada, de Homero, com o twitter? O Facebook tem pontos de contato com a literatura espistolar (troca de cartas)? O Orkut seria uma nova roupagem para o antigo coreto das praças públicas? Dois escritores brasileiros, respeitados pela crítica e aplaudidos pelo público, devem responder a essas e a muitas outras questões hoje, a partir das 19h30, no Paço da Liberdade Sesc Paraná.
O gaúcho Fabrício Carpinejar, de 37 anos, e o pernambucano Marcelino Freire, 42, são os convidados do projeto Autores & Ideias. Depois do bate-papo na capital, a dupla segue para uma espécie de turnê por outras quatro cidades paranaenses: Londrina, Maringá, Pato Branco e Cascavel (sempre em unidades do Sesc-PR).
"Um luxo", diz Carpinejar. "Afinal, hoje, nem mesmo bandas de rock conseguem fazer turnês. Então, nós dois, autores brasileiros, podemos nos considerar, mais do que tocados pela bem-aventurança, rockstars", afirma o poeta multimídia.
Carpinejar foi o primeiro autor brasileiro a publicar um livro com as suas "tuitadas". O www.twitter.com/carpinejar chegou às livrarias ano passado e ainda hoje é procurado pelo público. Aqui em Curitiba, o irriquieto gaúcho deve falar sobre o impacto do twitter na comunicação interpessoal. "Quando surgiu, o twitter servia para a pessoa dizer o que estava fazendo. Hoje, a pessoa dá uma tuitada para revelar o que está pensando", diz.
Freire, já em 2004, chamava a atenção para a importância das frases ditas mínimas. Naquele ano, ele organizou a antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século. "Desde lá, previ a presença maciça desses microformatos, que vêm desde Machado de Assis, que mostrava força em seus capítulos de duas linhas", observa.
A pauta do encontro, A Narrativa Breve na Era do Twitter, não será uma camisa de força. Carpinejar diz que ele e Freire são repentistas e que, portanto, devem improvisar muito. Freire endossa a fala do amigo e cita alguns assuntos que podem surgir durante o encontro: "Literatura, internet, sexo, contos, novos livros, velhos livros, o mestre Dalton Trevisan, o que vier."
Carpinejar anuncia que haverá bate-boca, polêmica e até vexame. "Vou provocar o Marcelino. Aviso aos leitores da Gazeta do Povo: vou colocar o Marcelino em uma saia-justa. Espero que ele me coloque em uma calça-justa", diz, em tom de brincadeira, o poeta gaúcho.
O prosador nordestino radicado em São Paulo responde a Carpinejar, naturalmente, fazendo graça: "Sabendo disto, sairei de saia, de Pomba Gira."
Os dois escrevem textos, publicam livros, participam de encontros e, acima de tudo, são performáticos. Freire já fez teatro e é um excelente declamador. A prosa que ele escreve, reconhecida pelo Prêmio Jabuti (Contos Negreiros), traz elementos da oralidade. Freire lendo é um espetáculo único, e o público não precisa pedir duas vezes para ele declamar verso ou prosa.
Carpinejar, que diz ter mais de duas mil utilidades, é até professor de rock em curso de uma universidade gaúcha. Ele fala em rádios, é conselheiro sentimental, e faz sucesso como cronista. Os seus dois livros de crônicas, Canalha e Mulher Perdigueira, além de ótimas vendagens, estão sendo disputados por produtores para serem adaptados para o cinema e para o teatro. "Vou provocar um tremor de terra em Curitiba", promete.
Serviço
A Narrativa Breve na Era do Twitter. Com Fabrício Carpinejar e Marcelino Freire. Paço da Liberdade Sesc Paraná (Pça. Generoso Marques, 189), (41) 3234-4221. Dia 10, às 19h30. Entrada franca.




