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Projeto

Da burocracia ao museu

Como o atual edifício do Museu Oscar Niemeyer deixou de abrigar secretarias de maneira improvisada para se tornar símbolo da cidade

A construção do anexo e a readequação do edifício levaram apenas cinco meses | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
A construção do anexo e a readequação do edifício levaram apenas cinco meses (Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo)
Alex Beltrão e Oscar Niemeyer observam a maquete de projeto ao lado de Jaime Lerner |

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Alex Beltrão e Oscar Niemeyer observam a maquete de projeto ao lado de Jaime Lerner

A imponência do Olho: chamariz turístico para o MON |

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A imponência do Olho: chamariz turístico para o MON

Operários trabalharam em três turnos para entregar a obra no prazo |

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Operários trabalharam em três turnos para entregar a obra no prazo

"Preciso ir ao Museu Oscar Niemeyer." Afirme isso para alguns taxistas de Curitiba, que logo em seguida responderão: "Ah, sim, o Museu do Olho?" O anexo criado por Oscar Niemeyer para o prédio virou uma marca para a cidade, além de referência turística. A grandiosidade é tamanha que, por vezes, muitos visitantes se sentem satisfeitos em conhecer apenas a parte externa do prédio. Em suma: a beleza da construção não chega a ser uma concorrente, mas faz com que a direção pense constantemente em medidas para chamar esses admiradores para dentro.

"Claro que o exterior tem uma beleza enorme, mas o mais valioso está dentro. Senão seria uma escultura", acredita a atual diretora do MON, Estela Sandrini. Ela mesma, ao tomar um táxi recentemente para ir ao trabalho, foi questionada pelo taxista se gostaria de parar para tirar uma fotografia. "Perguntei o porquê e ele disse que todos os passageiros pedem para ele parar. Que já está até acostumado."

Na análise do professor de arquitetura Paulo Chiesa, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o anexo é arrojado, e possui uma forma instigante, o que gera esse destaque na paisagem urbana. "Por isso, tornou-se um marco referencial incorporado pelos cidadãos e visitantes. Ele tem a marca de seu autor: é singular; é bonito; provoca vertigem; incita ao sonho; emociona. Poucas obras públicas hoje em dia propiciam esse tipo de experiência."

A primeira ideia de Niemeyer para o museu, entretanto, era bem diferente, conta o ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Jaime Lerner Alex Beltrão. "Ele adicionava uma estrutura de concreto e um espelho d'água, que não valorizava o ambiente onde o museu estava inserido e não teriam o impacto proposto". Felizmente, diz Beltrão, o projeto ficou inviável por questões estruturais, e então veio um plano B. "Quando vimos o Olho foi amor à primeira vista."

Finalizado o projeto, a readequação do edifício que abrigava secretarias do governo, projetado pelo próprio Niemeyer em 1967, e a construção do anexo, foram feitas em tempo recorde: cinco meses de obras. Além do trabalho intenso dos operários, o fato de a estrutura do prédio estar intacta e de a proposta inicial ter sido ousada para a década de 1960 ajudou os arquitetos da equipe. "Inicialmente, parecia um grande pardieiro por conta das divisórias improvisadas. Mas, assim que visitamos o local, notamos que com pequenas modificações a transformação seria possível", relata o arquiteto Marcelo Ferraz, que participou da empreitada.

O antigo porão, por exemplo, virou reserva técnica, e também abriga o atual pátio de esculturas do museu, que até hoje, de acordo com Ferraz, está inacabado. "Conseguimos jogar luz naquele espaço, mas, na época, foi previsto um espelho d'água que faz muita falta, porque o lugar é muito branco e árido. Tem até ponto de água lá. Seria interessante se pensassem em completar essa parte."

Além de enviar os arquitetos que escolheu, como Marcelo Ferraz, Niemeyer também acompanhou a obra, mas por videoconferência, do Rio de Janeiro. Alex Beltrão relembra que foi feito de tudo para que Niemeyer, então com 95 anos, participasse da obra. "Mas ele não viaja de avião. Então, instalamos o equipamento de vídeo no escritório dele. Foi interessante tê-lo conosco todos os dias, mesmo que de forma remota." A câmera, aliás, tinha cabos de 200 metros que percorriam o prédio para que Niemeyer pudesse conferir os detalhes. Mesmo assim, dois dias antes da inauguração em 22 de novembro de 2002, o arquiteto deixou a equipe de cabelo em pé: fez com que derrubassem uma parede que não tinha gostado. "Foi uma loucura", recorda Ferraz.

Queixas

Antes de virar museu, o prédio era alvo de reclamações de funcionários que trabalhavam nas secretarias e apontavam problemas como infiltrações e espaços mal distribuídos. Segundo o ex-governador Jaime Lerner, tudo foi sanado. "Fizemos as adequações necessárias, são problemas que o tempo ocasiona. Transformamos alguns locais que pareciam impossíveis em belas salas de exposição." Outra crítica, com o edifício já como museu, foi o fato de o Olho ter sido escurecido por uma tela entre os vidros para uma exposição realizada em 2006. A intenção agora, diz Estela Sandrini, é retomar a arquitetura original.

Leia na próxima semana: A política de acervo e a "disputa" dos outros espaços com o MON.

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