
Fátima Ortiz deve ser uma pessoa que controla muito bem a ansiedade – característica desejável para uma atriz. Aos 43 anos de carreira, ela deixou a negociação sobre a participação de sua próxima estreia, que ocorre durante o Festival de Teatro, nas mãos da equipe de sua empresa, Pé no Palco. Só soube da inserção de Ensaio para um Adeus Inesperado como único exemplar curitibano na mostra oficial pela Gazeta do Povo, em matéria do dia 8 de fevereiro. “Quiseram me fazer uma surpresa”, contou à reportagem durante um ensaio.
Fátima recebeu para ler a peça do paulistano Sérgio Roveri em 2012 e viu que aquilo se encaixava com sua estrela. A apresentação de uma leitura dramática no fim do ano passado confirmou o interesse tanto do grupo quanto do público. Surgiu então o projeto, que, a princípio, teria estreia na mostra Pé no Palco 20 anos durante o Festival, no Portão Cultural, mas acabou sendo promovido ao grupo das 29 peças principais do evento. E será a primeira montagem na íntegra do texto, marcada para dias 27, 28 e 29 de março.
“É um trabalho que a gente sabe que toca. Fomos muito motivados pela beleza do texto.”
Duas cadeiras
No texto, o autor insere somente uma rubrica: pede duas cadeiras no palco sobre o qual mãe e filho se alternam em quatro monólogos cada um. “Vamos acrescentar algumas coisas”, brinca Fátima, que chamou Fernando Marés e Ricardo Alberti para elaborar o cenário. A trilha é de Vadeco Schettini e a luz, de Beto Bruel.
No relato inicial da mãe, aprendemos que seu filho se matou sem deixar nenhum bilhete. O fato foi a premissa inicial de Roveri, intrigado com a situação de pessoas que se vão e levam junto seus motivos.
Na experiência da mãe, reconhecemos a conduta de tantas mulheres que tentam lidar com um baque tremendo e passam por várias fases da depressão. “O texto toca porque abre para muitas experiências com perda”, explica a atriz.
Aos poucos, o filho acrescenta sua versão, como se tivesse voltado para contar sua história.
Na montagem, Fátima interpreta a mãe, enquanto Pedro Bonacin faz o filho. A atuação de ambos faz surgir muitos personagens no palco: uma namorada, um irmão mais novo, o pai.
Por meio de uma tela translúcida, entram diferentes tempos narrativos, com espaço para a encenação, ou melhor, sugestão, de fatos passados. A direção é de José Simões e Jean Carlos Sanches.



