
"Quero fazer um mortal." Esse é um interesse frequente de iniciantes na capoeira. Para a capoeirista e antropóloga Caroline Blum, da Associação de Capoeira Angola Dobrada (Acad), de Curitiba, esse é um reflexo da apropriação de características da luta africana pelas lutas livres em voga na televisão.
Essa mescla pode até gerar interesse público para sua causa, mas, para os especialistas da Acad, há questões muito mais profundas a se discutir, como a prevenção da violência contra as mulheres. Esse e outros debates são o foco do evento Levanta a Saia, Lá Vem a Maré, que acontece entre hoje e domingo na sede da escola, no Centro de Curitiba.
"A luta ainda é um espaço muito masculino. Muitas vezes as mulheres ficam só na administração", disse Caroline em entrevista à Gazeta do Povo, comemorando ter em sua escola uma contra-mestre de capoeira e tocadoras de berimbau, além de metade dos alunos serem do sexo feminino. "A luta hoje é contra limites e preconceitos."
Para marcar esse posicionamento, a Acad inicia seu evento hoje à noite com uma roda de capoeira angola o gênero remete às origens centenárias dessa tradição, enquanto tipos regionalizados mais conhecidos teriam surgido em meados do século 20. O que muda, de acordo com Caroline, é que no tipo angola luta-se com calçados, calça preta (e não roupa branca) e movimentos e músicas diferentes.
O evento continua amanhã com aula de ritmos, uma apresentação sobre A Lenda do Berimbau e a mesa redonda "Gênero e Cultura", que reunirá oito mulheres ligadas a diferentes âmbitos de discussão da capoeira e da presença feminina na sociedade: Liliana Porto (UFPR); Caroline Césari (pesquisadora de MG); Giseli Rossi (jornalista); Iyagunã Dalzira (sacerdotisa do candomblé); Tania Lopes (educadora); Clemilda Santiago Neto (historiadora); Margarida Quadros (Fundação Cultural de Curitiba) e Caroline Blum, da Acad.
Festa
O encontro terá também espaço para confraternizações. Além de rodas no sábado e no domingo (esta última acontece nas Ruínas de São Franciso, o que promete atrair bastante atenção entre frequentadores da Feirinha do Largo), haverá um almoço e roda de samba no Café Parangolé.



