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Após a consagração de Cidade de Deus, a expectativa era muito grande em relação ao próximo trabalho do diretor Fernando Meirelles. O cineasta brasileiro anunciou que estava preparando o roteiro de um filme que seria rodado em vários continentes – chamado Intolerância, mesmo nome do clássico de 1916 do americano D.W. Griffith, um dos nomes mais importantes da história do cinema. O projeto, no entanto, foi adiado e Meirelles acabou embarcando em sua primeira experiência internacional, aceitando comandar a produção inglesa-americana O Jardineiro Fiel, baseado no livro homônimo do escritor John Le Carré (de O Alfaiate do Panamá).

A nova fita de Meirelles, que estréia na próxima sexta-feira nos cinemas brasileiros, esteve no Festival de Veneza e foi bem recebida pela crítica internacional depois de seu lançamento nos EUA, alcançando também um resultado de bilheteria – ultrapassou os US$ 28 milhões, ótima marca para um filme considerado pequeno para os padrões hollywoodianos (custou US$ 25 milhões).

O diretor e o ator Ralph Fiennes (protagonista do longa) estiveram na semana passada no Rio de Janeiro para a divulgação da produção, com direito a um grande evento de imprensa e sessão especial no Festival Internacional de Cinema da cidade. O Caderno G participou de uma das mesas de entrevistas com Meirelles, que falou da experiência de participar de um projeto internacional e sobre seu próximo filme, Intolerância, que deverá ser filmado em meados de 2006.

O Jardineiro Fiel é anunciado ao público brasileiro como um impactante thriller de suspense e ação, mas, ao acompanhá-lo, percebe-se que o foco da trama é a história de amor entre o personagem central, Justin Quayle (Fiennes), um diplomata inglês, e sua mulher Tessa (Rachel Weisz), ferrenha ativista de causas sociais. Ela é assassinada em uma visita ao Quênia, país para onde Quayle se encaminha para tentar desvendar os motivos do crime, que esbarram em conspirações políticas e no envolvimento da indústria farmacêutica.

"Vejo o filme mais como uma história de amor mesmo. Quando li o roteiro, o filme era meio thriller, meio romance. Filmamos muito mais cenas de ação e outras de conteúdo político mais explícito, como depoimentos em forma de documentário de gente da (ONG) Médico sem Fronteiras, que acabamos cortando na edição final", informa o cineasta, que teve total liberdade do estúdio Focus para fazer os cortes que achava necessário. "O filme ficava entre essas três coisas: a ação, a política e o romance. Montei uma versão de três horas e cada vez que eu cortava alguma cena, minha vontade era centrar a história naquele cara que está sofrendo, o que ele vai fazer, onde quer chegar. No fim, o resultado não foi o filme planejado no roteiro, nem mesmo aquele que eu planejei. E tenho que admitir que virou uma história de amor. A própria Focus reconheceu isso e nos EUA vende o filme dessa forma, ao contrário daqui", continua.

Depois do sucesso de Cidade de Deus, o diretor brasileiro começou a receber muitos roteiros e propostas para filmar no exterior – algumas muito boas, segundo ele –, mas estava focado na elaboração do roteiro de Intolerância. Só que Meirelles não estava conseguindo fechar o texto do filme e a data de pré-produção já estava se aproximando. Neste período, surgiu a proposta de dirigir O Jardineiro Fiel. "Se isso tivesse acontecido duas ou três semanas antes, não teria feito. Mas na hora que eu estava em crise criativa, me aparece um roteiro que, por acaso, acontece em muitos países, algo que quero fazer no Intolerância; que tem uma história que se passa no Quênia, aonde eu havia estado e pretendo filmar no próximo projeto. Os dois filmes são parecidos em termos de produção. Não pensei em mercado, em qual seria a expectativa para meu segundo filme. Só pensei: ‘E por que não?’", conta.

Fernando Meirelles diz que O Jardineiro Fiel foi um grande aprendizado para sua carreira, principalmente em relação à construção de roteiros. "Joguei 45 minutos de filme fora, era muito mais inteligente ter jogado fora as páginas do roteiro. Doeu pela vergonha de ter feito isso", revela. Como exemplo, ele cita uma seqüência feita no Canadá que foi inteiramente retirada do filme. "Gastamos meio milhão de dólares, levei estrelas de cinema para lá e depois cortei a seqüência. Era só ter riscado do roteiro. Você se sente meio idiota. Mas os produtores aceitaram na boa, foi impressionante, ninguém perguntou: ‘O quê!!??’. Ou eles disfarçam muito bem ou estão acostumados com isso", diverte-se.

Para o cinesta, o roteiro de Intolerância será muito melhor por causa da experiência do filme internacional. Ele espera finalizar o texto até março do próximo ano, viajando para realizar a pré-produção entre abril e maio (o filme será rodado em seis países) e iniciando as filmagens em junho ou julho. A fita será produzido pela O2 Filmes, empresa do diretor, mas o financiamento deverá ser todo internacional. "São portas abertas pelo Cidade de Deus, e mesmo por O Jardineiro Fiel estar fazendo sucesso agora, isso aumenta o nosso cacife. Para que vem me oferecer projetos, estou invertendo a ordem e oferecendo o Intolerância. E tem muita gente interessada. Ainda não fechei com ninguém, mas tenho certeza que na hora que eu traduzir o roteiro para o inglês vai ser uma questão de enviá-lo para me mandarem os contratos", afirma Meirelles, que informa que a produção deverá ter astros internacionais e nacionais no elenco.

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