Os objetos guardariam reminiscências do contato humano. Segundo essa hipótese, apresentada na peça A Memória dos Seres Inanimados, em cartaz apenas este fim de semana no Espaço Dois, uma pedra, ao ser tocada, sentiria a energia daquele que a pressionou contra sua pele.
"Seria bom se fosse assim com as pessoas, não seria?", pergunta o ator Fabio Parra, integrante da Benedita Cia. de Teatro. E completa: "Se as pessoas percebessem, pelo que a gente fala ou faz, se estamos bem ou mal, precisando delas ou não".
Na essência, trata-se de uma questão de comunicação. Ou seu inverso, a malfadada incomunicabilidade entre humanos, num tempo soterrado pelo excesso de informação, em que se fala demais e pouco se escuta.
A montagem traduz essa profusão, nunca silenciando. A trilha sonora começa no primeiro segundo e só pára no último instante de encenação, transitando nesse meio tempo por uma amplitude de estilos musicais, do tango ao eletrônico.
A linguagem corporal que o elenco põe em ação nos dois primeiros terços do espetáculo sintetiza igualmente uma variedade de referências teatrais, do antigo ao contemporâneo, sob influências da dança japonesa Butô ou do encenador polonês Grotowisk.
A diretora Cássia Damasceno optou por não marcar fixamente a movimentação em cena. "Vai muito do dia, do momento do ator e do retorno do público", diz Parra. O fio condutor desse começo mudo (excetuando a música) é o texto do curitibano Severo Brudzinski, que só será ouvido na terceira parte da peça, quando um homem e uma mulher, anônimos, dialogam sobre relações cotidianas por quase 15 minutos.
Embora seja o primeiro trabalho do grupo sob o nome atual, os sete atores já atuavam juntos antes em temporadas de Amores e Canções e Mais Amores e Canções, pela Cia. Independente de Teatro, então sob a direção de David Mafra, que se desligou em 2008, ocasionando o novo batismo. A Memória... estreou no Festival de Curitiba e teve grande procura de público.
Serviço
A Memória dos Seres Inanimados - Espaço Dois (R. Com. Macedo, 431), (41) 3362-6224. Texto de Severo Brudzinski. Direção de Cássia Damasceno. Com Adriano Carvalhaes, Alex de Félix e Amy Scott. Dias 7 e 8 às 21h e dia 9 às 19h. R$20 e R$10 (meia ou antecipado).
