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Opinião

Falta graça à nova comédia de Adam Sandler

Há uma linha muito fina entre fazer uma comédia ousada, sem limites, sem medo de ser politicamente incorreta, e uma comédia retrógrada, antiga, completamente fora de compasso com o modo como as pessoas estão vivendo. Um modo simples de descobrir de que lado um filme está é o quanto ele é engraçado. "Eu os declaro marido e… Larry" não é engraçado.

Inspirado (muito vagamente e sem autorização) no filme australiano "Strange bedfellows", de 1964, "Marido e… Larry" segue as confusões arrumadas por dois amigos completamente heterossexuais que, para contornar um impasse burocrático, decidem armar uma união gay de mentira. Ambos são bombeiros, e Larry (Kevin James, da série de TV "The king of Queens") não consegue colocar os filhos como seus beneficiários no plano de aposentadoria, depois do falecimento da esposa. Como a corporação reconhece rapidamente os dependentes de uma união civil, o jeito é tornar seu bom amigo Chuck (Adam Sandler) seu "companheiro de vida".

Em mãos mais inventivas que as do diretor Dennis Dugan, uma situação assim se mostraria repleta de possibiliades irônicas, satíricas, picantes e até ternas – é só lembrar o que Billy Wilder fez com os muito não-gays Jack Lemmon e Tony Curtis em "Quanto mais quente, melhor".

Mas em "Eu os declaro marido e… Larry" a idéia de "engraçado" é um bate-boca com um investigador antifraude (Steve Buscemi, desperdiçado) sobre o quão "gay" é o lixo do "casal" e que medidas devem ser implementadas para torná-lo "mais gay" (é claro que as providências incluem lubrificantes e CDs de Barbara Streisand). Ou um pastor especializado em uniões gay (Martin Short, não creditado e caricato) que não consegue pronunciar a letra "r" por ser de origem asiática.

É humor sem inspiração, velho, careta, ultrapassado e, francamente, sem graça. Não se espantem com o crédito a Alexander Payne entre os roteiristas. Payne (de "Entre umas e outras" e "Eleição") foi o autor de uma das versões do roteiro, rejeitada por ser "sofisticada demais". Dá para saber por que.

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