Turbulência em tempos de crise
Indagar-se sobre o fim do mundo é algo recorrente no comportamento do ser humano, e isso tem explicação. A professora do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Delia Cambeiro diz que o homem sempre se perguntou a respeito de sua origem, "De onde eu vim?", e também fez o questionamento a respeito do futuro, "Para onde eu vou?".
Turbulência em tempos de crise
Indagar-se sobre o fim do mundo é algo recorrente no comportamento do ser humano, e isso tem explicação. A professora do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Delia Cambeiro diz que o homem sempre se perguntou a respeito de sua origem, "De onde eu vim?", e também fez o questionamento a respeito do futuro, "Para onde eu vou?".
Uma inexplicável chuva de pássaros no estado de Louisiana, nos Estados Unidos. Cerca de 80 mil peixes mortos no Rio Arkansas e algumas toneladas desses animais boiando sem explicação no Pantanal brasileiro. Terremotos destruidores como o que aconteceu no Haiti, enchentes devastadoras como as que mataram mais de 800 pessoas no Rio de Janeiro e outras tantas na Austrália, do outro lado de um mundo que, segundo alguns, está perto do fim. Ao menos como o conhecemos.
O dia do Juízo Final seria em 21 de dezembro de 2012, data do fim do calendário maia. Segundo a cosmologia dessa civilização os maias tinham grandes habilidades astronômicas e viveram entre os séculos 2 e 9, ocupando as planícies da Penísula de Yucatán, onde hoje fica o México, e parte da Guatemala, Honduras e Belize , a Terra possui cinco grandes ciclos, cada um com 5.125 anos. Quatro já se passaram. E a chamada "profecia maia" refere-se ao fim do último, justamente previsto para 21 de dezembro de 2012.
A profecia leva em conta um possível alinhamento astronômico dos planetas. Na data prevista para o fim, o Sol do solstício se alinharia com o centro de nossa galáxia, fenômeno que só acontece a cada 26 mil anos segundo John Major Jenkins, autor do livro Maya Cosmogenese 2012.
Isso acarretaria uma mudança do eixo da Terra, fenômeno chamado de precessão. O fato seria responsável, então, pela inversão dos polos do planeta, ocasionando sempre na pior das hipóteses , consequências catastróficas para a humanidade, como um inimaginável "arremesso" de continentes.
Todas as tragédias citadas no início deste texto seriam, segundo a profecia, uma forma de avisar que o fim está próximo. Somam-se a elas o esgotamento dos recursos naturais do planeta, as crises econômicas, a violência gratuita cada vez mais presente e a ideia terminal não parece assim tão absurda.
Até um filme se apropriou da previsão. 2012, dirigido por Roland Emmerich, foi lançado em 2010 e é uma bomba. Mas leva em conta o maianismo e suas catástrofes, como o bombardeio da Terra por erupções solares, o deslocamento da crosta terrestre e outras cenas apocalípticas.
"Fim do Mundo Eu Vou"
E o possível fim do mundo daqui a menos de dois anos vem causando reações diversas. Há quem já esteja colocando em prática as respostas para a pergunta "o que você faria se não houvesse amanhã"; há quem concentre forças em sua religião o pastor de uma igreja evangélica de Porto Príncipe falou com a Gazeta do Povo na capital haitiana e disse acreditar que o terremoto que assolou a cidade em janeiro de 2010 faz parte das profecias preditas por Jesus no Novo Testamento; e há quem aproveite as redes sociais para promover uma discussão, quem diria, sobre o fim do planeta azul.
O designer paulista Diogo Costa, 26 anos, criou no Facebook o evento "Fim do Mundo Eu Vou!", que tem mais de 23 mil participantes. "Na hora, eu nem pensei que as pessoas iriam convidar outras, achei que iria ser algo que acabaria rapidamente e que poucos se interessariam", diz o designer, que não acredita na previsão. "Se o mundo acabar mesmo, eu vou ter que pagar a minha língua."
Na lista de mensagens, há de tudo. Mas a maioria são chacotas, como a de Roberto Ribeiro: "Já tenho experiência. Participei dos fins do mundo de 1980, de 1984, de 1999, de 2000 e de 2001. Não perco esse de 2012 por nada".
Questionado se poderia estar causando certo pânico em que se depara com a comunidade, o criador do evento tem a resposta na ponta da língua: "Para esses pessoas eu digo: aproveitem a festa. Irá durar até o sol raiar. Ou não."
Nibiru
Outra "sugestão para o fim do mundo" seria a destruição da Terra devido à colisão com Nibiru, também chamado Planeta X. O impacto se daria precisamente na data em que o calendário maia termina, em 21 de dezembro. Os boatos já acionaram até a NASA Agência Espacial dos Estados Unidos , que, por meio de um relatório, esclareceu as mais de mil perguntas relacionadas ao fim dos tempos.
Para nossa sorte, a NASA classificou as previsões como "fábulas", disse que os maias não eram capazes de prever o futuro e que as fotos ou evidências apresentadas na internet são falsas.
Mas o que há de tão fascinante em palpitar sobre o fim, em se embrenhar em profecias às vezes estapafúrdias que nunca se concretizaram? pense em Nostradamus e sua previsão de que o mundo acabaria no ano 2000. O fim do dia, o fim de um ano, de um ciclo, enfim, talvez seja necessário para nossa própria renovação. E a trama proposital de coincidências desencadeando em consequências catastróficas, uma resposta às nossas próprias insatisfações.
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