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Taylor Swift: símbolo à revelia de fascistas americanos | LUCY NICHOLSON/REUTERS
Taylor Swift: símbolo à revelia de fascistas americanos| Foto: LUCY NICHOLSON/REUTERS

Taylor Swift não é uma supremacista branca. Ela não se identifica como neonazista, e não há nenhuma evidência para sugerir que, por trás de portas fechadas, ela possa ser.

Isso não impediu alguns supremacistas brancos da “direita alternativa”, um grupo marginal do movimento que frequentemente usa humor e fóruns de discussão como 4chan para espalhar sua ideologia, de supostamente escolherem-na – permanece obscuro se ironicamente ou não – como um ícone de seu movimento. Da mesma forma como Cher ou Barbra Straisand podem ser vistas como “ícones gays”, uma série de memes de internet, artigos e posts em fóruns de discussão apelidaram Swift de “deusa ariana”.

Parece ter começado em 2013 quando uma adolescente chamada Emily Pattinson começou a sobrepor citações de Hitler sobre fotos de Tayler Swift no Pinterest como uma piada, relatou o Buzzfeed. O advogado de Swift, J. Douglas Baldrige, enviou uma carta severa ao Pinterest, pedindo que as imagens fossem removidas. Parte da carta dizia:

“A associação da Srta. Swift com Adolf Hitler é indisputavelmente ‘danosa’, ‘abusiva’, ‘eticamente ofensiva’, ‘humilhante para outras pessoas’, “caluniosa”, e sem dúvida ‘objetável por outras razões’. Não importa que a Srta. Swift possa ser uma figura pública ou que o Pinterest convenientemente agora argumente que o material ofensivo é mera sátira ou paródia. Figuras públicas têm direitos. E há certas figuras históricas, como Adolf Hitler, Charles Manson e afins, que são universalmente identificados nos precedentes como para-raios para reações negativas e emocionais.”

O Pinterest se recusou a derrubá-las, citando leis que protegem a paródia. Mas essas mesmas imagens agora aparecem no The Daily Stormer, que proclama a si mesmo “o site da direita alternativa mais visitado do mundo”.

Berço do atirador

O site foi fundado pelo autoproclamado supremacista branco Andrew Anglin depois que ele se deu conta de que usuários da internet estavam mais interessados em conteúdo rápido, estilo meme, do que nos longos ensaios sobre supremacia branca que ele postava em seu site anterior, “Total Fascism”.

“Minha ideologia é muito simples”, Anglin disse ao Los Angeles Times. “Acredito que pessoas brancas merecem ter um país só para elas.”

A ONG Southern Poverty Law Center chama o site de “neonazista”, e um dos dois “sites de ódio” mais populares na rede. Dylann Roof, o suposto atirador do massacre em uma igreja em Charleston, era ativo no site, e a ideia de “grêmios estudantis brancos”, que apareceu pelo país em novembro passado, foi depurada lá.

A ideia de Swift como um ícone pop da direita alternativa parece ter se depurado por lá também.

A colunista Camille Paglia já chamou Taylor de “Barbie nazista”CG/gs/CHERYL GERBER

Fascismo via memes

Ao lado dos memes, o Daily Stormer se tornou lar para várias páginas de artigos elogiando Swift que trazem títulos como “Taylor Swift, símbolo do imperialismo europeu”, “Deusa ariana Taylor Swift: símbolo nazista do povo europeu branco” e “Deusa ariana Taylor Swift acusada de racismo por ter se comportado como um primata em um videoclipe”.

“Taylor Swift é uma deusa ariana pura, como algo saído da poesia clássica grega”, Anglin disse ao site Broadly, da revista Vice. “Atena renascida. Isso é o mais importante.”

O colunista Milo Yiannopoulos explicou no site Breitbart que a direita alternativa pensa que “Swift foi ocultamente ‘convertida’, ocultando seus valores secretamente conservadores da progressista indústria da música enquanto dá acenos sutis a uma base de fãs reacionária.”

Yiannopoulos escreveu que Swift representa uma tempestade perfeita: ela é branca, loura e não fala sobre suas convicções políticas. Ao mesmo tempo, já recebeu críticas relativas a raça nos últimos anos.

Na revista Pacific Standard, o colunista Aaron Brady acusou Swift de ser “nostálgica por um tempo em que era permitido ser nostálgico pela supremacia branca” depois que seu vídeo ambientado na África “Wildest Dreams” foi lançado, o qual também provocou a seguinte manchete do site da National Public Radio: “Taylor Swift está sonhando com uma África bem branca.” A colunista Camille Paglia inexplicavelmente se referiu a ela como “Barbie nazista” e “fascista” em uma coluna para o The Hollywood Reporter em dezembro. E, em 2009, uma foto circulou na internet mostrando ela dançando com um homem que vestia uma camiseta branca com uma desleixada suástica vermelha.

Esses são incidentes isolados, mas sites supremacistas brancos os têm tirado do contexto. Por exemplo, na foto, Swift veste uma camiseta com as letras “JH”, as quais alguém no fórum neonazista Stormfront afirmou que significavam “Jew Hater” (pessoa que odeia judeus).

Fora do contexto

Se tudo isso parece um pouco absurdo, esse pode ser o propósito.

A linha entre suposta comédia e a mais total seriedade é borrada por meio dos memes sobre Swift. Tome uma página do Facebook, que inclui muitos dos memes mencionados acima. Curtida por mais de 19 mil pessoas – e já removida do Facebook no passado – é intitulada “Taylor Swift pela Europa Fascista” e tem o rótulo de comédia mas inclui comentários tais como “nem todas as raças são iguais” e “vamos mostrar para os muçulmanos o que é uma guerra santa de verdade”.

Seu curador anônimo disse que a aparência de inocência de Swift – a cantora não diz palavrões e raramente encontra-se no centro de controvérsias sexuais – é em parte o que a faz um ícone no mundo fascista.

“Tome Kim Kardashian ou Miley Cyrus como exemplos disso: ambas começaram suas vidas com o mesmo sangue nórdico de Swift, mas o que torna essas duas degeneradas inaptas a serem consideradas ícones fascistas?”, o curador disse. “É porque, ainda que de sangue ariano, as duas não têm espírito ariano. Ter um espírito ariano é o que completa um fascista.”

Anglin concordou.

“É realmente incrível que ela esteja cercada desses judeus imundos e pervertidos e ainda assim permaneça capaz de exalar pureza, feminilidade e inocência próprias dos anos 1950”, disse Anglin. “Ela é a anti-Miley.”

Cavalo de Troia

A linha borrada entre “comédia” e “discurso de ódio” também ajuda a tornar o Daily Stormer popular.

“Queria algo provocador e divertido e prazeroso de ler, e algo de que qualquer um pudesse extrair alguma coisa”, Anglin disse ao Los Angeles Times. “Muitas pessoas na internet preferem escrever longos ensaios, que muitas pessoas não leem, que têm uma audiência limitada.”

Os memes podem agir como cavalos de Troia para a ideologia.

“O Daily Stormer é um exemplo perfeito para mim da influência que o 4chan tem tido no resto da máquina de fóruns de discussão para a supremacia branca”, Keegan Hankes, do Southern Poverty Law Center, disse ao site The Daily Beast. E como Caitlin Dewey escreveu no The Washington Post, o estilo 4chan de discussão frequentemente envolve memes.

No Daily Beast, Jacob Siegel escreveu que Keegan “vê o estilo do racismo originalmente aperfeiçoado nos fóruns de discussão do 4chan – nos quais o racismo é apenas tão efetivo quanto o meme o dissemina – como o modelo para o site de Anglin.”

Se esse é o caso, então os memes sobre Swift podem ser vistos como sérios ou como piadas e isso não faz diferença.

“Muitas das mesmas imagens, muito do mesmo estilo retórico estão sendo imitados pelo Daily Stormer de maneira bem sucedida”, Keegan disse. “O site decolou.”

Swift novamente não respondeu contra essas afirmações. Além de empilhar elogios a Swift, o site também comemora Donald Trump, relatou o Post.

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