Zé do Caixão tem uma obsessão: a busca por seu sucessor, o filho perfeito. O destino pregou-lhe uma peça, deu-lhe uma filha e, o que é pior, ela é uma vampira - monstro que o personagem de José Mojica Marins abomina! Autodenomina-se Liz Vamp. Fora da ficção, assim como o pai, Liz Marins é cineasta e está prestes a iniciar um longa-metragem. Trata-se do surgimento da segunda geração do terror brasileiro, gênero que sobrevive à sombra.
- Há um certo preconceito, ainda mais com as mulheres, que geralmente são as vítimas nas histórias. Poucos festivais no Brasil são voltados para cinema de terror ou fantástico. Consumimos só os enlatados estrangeiros. Quase não temos cineastas dedicados ao gênero. O grande nome é meu pai, José Mojica Marins, e ele também sofre dificuldades mil - conta a cineasta Liz Marins, nascida Mariliz.
Zé do Caixão, pai de uma vampira, não gosta de vampiros, mas, como José Mojica, aceitou participar do filme da filha, claro.
- Não acredito em vampiros. Nunca vou aceitar uma filha vampira. Mas sou um homem de improviso. Ainda não sei como vou reagir ao conhecer a Liz Vamp em seu filme e saber que ela é minha filha. Certamente não vou ficar satisfeito, nem verei nela meu filho perfeito. Talvez conclua que ela é uma mutação - disse Zé.
Liz conta que o pai tem mesmo um certo preconceito com vampiros. Ele sempre relacionou o tema a "enlatados" vindos de fora, sem nada a ver com o Brasil.
- Meu pai foi pioneiro em usar elementos nacionais em seus filmes e histórias de terror. Mas estou mostrando para ele que o mito do vampiro não é regional. Entre os indígenas há histórias de seres ou monstros que sugam sangue e energia vital. Há lendas até do Oriente. Em cada lugar eles têm um nome. E o que é o chupa-cabras? Um vampiro? Um extra-terrestre? Não se trata de um mito regional, mas sim de um mito universal - explicou Liz.
A personagem Liz Vamp nasceu em 2001. Criou em 2002 o Dia dos Vampiros, 13 de agosto, que virou Lei municipal na capital paulista. A idéia surgiu para fazer uma campanha de doação de sangue.
- No Brasil, apenas 2% da população doa sangue. Na Europa, 7% são doadores. Em 2004, batemos recorde de doação com nossa campanha em parceria com a Pró Sangue. Isso ajudou a fazer meu pai gostar um pouco mais de vampiros - contou Liz, que como qualquer filho passa a vida lutando para conquistar a aprovação dos pais.
Liz Marins fez sua estréia oficial como cineasta com o curta "Aparências". Trata-se da história de uma estudante voltando da escola para casa. Neste pequeno trajeto ela é traída pelas aparências, e isto pode lhe custar a vida. É um curta de terror, lógico.
Em parceria com o pai e o irmão, publicou um livro, "Crônicas do terror", com 60 histórias, 20 de cada um. Fez também uma história em quadrinhos, apresentada ainda em fase de produção em um festival de cinema fantástico em San Sebastian, na Espanha. Também aí, a estrela vampira é ela.
- Dá para perceber no livro de crônicas que temos estilos muito diferentes. Meu tom é mais poético. Vampiros têm uma aura de perdição e muito romantismo. Diria que minhas referências são Anne Rice, Hitchcock e Zé do Caixão. Gostava muito dos filmes de Drácula e Frankenstein, era o que tinha para assistir na infância, além é claro de Zé do Caixão - diz Liz.
No longa-metragem, Zé do Caixão tem, sem saber, um caso com uma vampira. Para ele, ela era apenas uma cigana. Com o título provisório de "Liz Vamp - A segunda geração do terror", a filha do cineasta fala das crises de identidade de Liz Vamp. Ela e o pai irão se encontrar e se descobrirão como pai e filha. Parece até que ela exorciza na história a própria divergência familiar em torno do tema.
Liz Marins inaugurou em 13 de outubro um estúdio de cinema e junto com ele um projeto de cinema auto-sustentável. Na segunda quinzena de janeiro de 2007, começa em seu estúdio um curso prático de cinema.
Entre os alunos será selecionada parte da equipe para fazer seu longa metragem, que ela pretende começar a rodar em 13 de abril de 2007, uma sexta-feira. Elenco, roteiristas, assistentes de direção serão escolhidos entre os alunos. Quem se antecipar e fizer a inscrição para o curso em novembro, pode assistir às filmagens do longa de José Mojica Marins.
Curso Prático de Cinema e Vídeo - com José Mojica Marins e Liz Marins - Estúdio Arte - Rua Chuí, 74, próximo à estação Paraíso do metrô- Informações e agendamento: 11 3251.3222 ou 11 3253.1554 - Inscrições abertas.



