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Para Frias Filho, “a crítica perdeu presença” na arte | Divulgação
Para Frias Filho, “a crítica perdeu presença” na arte| Foto: Divulgação

Livro

Cinco Peças e uma Farsa

Otavio Frias Filho. Cosac Naify, 320 págs., R$ 49. Teatro.

No teatro contemporâneo brasileiro, boa parte das peças nasce de experiências coletivas. A figura do autor solitário que escreve e antevê a encenação do espetáculo é cada vez mais rara.

Para o jornalista, escritor e dramaturgo Otavio Frias Filho esta tendência se explica, em parte, pela importância que os diretores ganharam nas últimas décadas.

"Se o texto teve papel central durante muito tempo, hoje ele foi substituído pela direção, pela figura do autor-diretor", comenta.

Em seu livro Cinco Peças e Uma Farsa, lançado nesta semana durante o Festival de Curitiba, quem emerge é esta anacrônica figura do "autor de gabinete".

"Há algumas décadas, o teatro se tornou uma criação muito coletiva, com grupos que formam espetáculos a partir da vivência de várias pessoas. Eu até cheguei a trabalhar assim algumas vezes. Mas sou mesmo um autor mais individualista", afirma Frias.

No livro, este autor à moda antiga reúne seis peças escritas por ele em dois momentos distintos. As duas primeiras, Tutankáton e Rancor, foram criadas no início dos anos 1990, algo que se pode perceber pelos temas que abordam.

Tutankáton é o texto mais político, escrito logo após os acontecimentos que determinaram a queda da União Soviética e as demais mudanças geopolíticas ocorridas no leste europeu.

No texto de Rancor, um grupo de intelectuais vive num afetado e delirante mundo de disputas de egos. A figura do crítico de arte, cuja pena inclemente apavora os artistas, serve como vilão da história. Um personagem que Frias, que é diretor de redação do jornal Folha de S.Paulo, admite estar em extinção. "Isto mudou muito. A crítica perdeu presença e o trabalho da imprensa virou um trabalho de serviço e orientação ao público", observa.

As outras peças, Típico Romântico, Sonho de Núpcias, Utilidades Domésticas e Breve História de uma Perversão Sexual foram escritas durante os anos 2000 e usam uma linguagem ampla, que vai do registro de grande profundidade intelectual ao escracho e à paródia pornográfica (no último texto, exatamente a "farsa" que dá título ao livro) para tratar das relações de poder nos dias atuais.

Carreiras

Frias conta que a relação com o teatro começou durante sua adolescência. Por influência de sua irmã, começou a frequentar o Teatro Oficina, em São Paulo. "O José Celso Martinez Corrêa tinha voltado do exílio. O trabalho do diretor Antunes Filho também foi muito impressionante", lembra.

Além de autor de teatro, Frias Filho já publicou três coletâneas de ensaios. Em um deles, seu segundo livro, Queda Livre (Cosac Naify, 2003), ele conta que teria parado de escrever para teatro. Algo que reconhece ser uma meia verdade.

"Tenho algumas coisas guardadas e inacabadas que espero terminar. Mas é um meio difícil para quem não o vive com uma dedicação em tempo integral. O teatro requer uma dedicação e entrega que eu não tenho como dar", lamenta.

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