Quando o Fugazi chegou ao Aeroporto Afonso Pena em agosto de 1994 para (a princípio) dois shows no bar 92 Graus, a banda parecia uma horda de maltrapilhos malcheirosos de tênis rasgados.
No entanto, o grupo fundado em 1987 já era a prova viva de que se pode fazer música independente e vender milhões de discos rejeitando qualquer ideia de reduzi-la a um mero produto comercial.
Neste sentido, o Fugazi talvez seja a que melhor representa o toda a cena punk de Washington, e por isso mesmo uma das mais influentes formações do rock, idolatrada por bandas como o Nirvana.
Em Curitiba, o Fugazi superlotou o porão do velho 92 nas duas apresentações e, com a energia dos abstêmios, insistiu em fazer um terceiro show pelo qual cobrou módicos R$ 5. A cidade, na época, vivia o auge do hardcore. Bandas como o Pinheads e o Resist Control tinham destaque no underground nacional, com forte inspiração na cena de Washington.
Eduardo Munhoz, do Pinheads, lembra que cada banda assimilou influências de forma diferente, seja com a música ou com o ativismo.
“O que mais me pegou foi simplesmente fazer do jeito que funciona para você. Autodeterminação, viver a vida como você acha que é melhor para você e para a sociedade”, explica. O fenômeno também foi sentido em todo o país. Proliferaram bandas de hardcore e grupos de ativismo straight edge dando voz a uma geração de jovens desconfortáveis no contexto “sexo, drogas e rock-and-roll”. “Muitas vidas foram transformadas pelo punk, e muitas continuam sendo transformadas até hoje. A chama continua acesa”, diz o editor Marcelo Viegas.
