
LivroPoesia É Não
Estrela Leminski. Iluminuras, 2011. 114 págs. Preço médio: R$ 38. Poesia.
Poesia não é catarse, não é útil, não vende, não é notícia, não é regional e não é protesto. Disso, a poeta Estrela Leminski, 30 anos, já está cansada de saber. Tanto que ilustrou diversas páginas de seu segundo livro de poemas, lançado há pouco mais de um mês, com colagens onde se destacam essas conclusões. Mas então, o que seria poesia para ela? É exatamente essa busca que costura os poemas visuais e haicais de Poesia É Não.
Filha dos poetas Paulo Leminski (19441989) e Alice Ruiz, Estrela descobriu o amor pela poesia ainda menina, mas sua produção ficava limitada aos cantos escuros de uma gaveta, onde ela escondia seus escritos, temendo comparações com as obras de seus pais. Comparações, nesse caso, inevitáveis, assim como as influências de ambos na maneira de Estrela ver e escrever o mundo.
E ela o faz de maneira independente, corajosa, sincera e bem-humorada. "Rima rica o cacete/prefiro a plebe dos verbetes", dispara, certeira, desprezando intelectualidades. "Aprendiz de poeta/cala a boca/e me diz o que te afeta", vocifera Estrela, ridicularizando a "angústia perpétua" de seus colegas de profissão. Para ela, a inspiração parece vir de fatos simples do cotidiano: "a folha em branco/desafia/o choro do filho/nocauteia", descreve, referindo-se ao pequeno Leon Miguel Leminski Ruiz, seu primeiro filho, a quem ela dedica o livro.
Poesia É Não traz ainda boas doses de humor autodepreciativo "lancei meus livros/no meu público-alvo/e errei na mosca" e singelas homenagens: "meu pai grego/encontrou Sócrates/lhe ofereceu da cicuta mais uma dose/e propôs um brinde/à vida e suas metamorfoses". (JG)
Livro 2Rompendo o Silêncio,
Alice Walker. Tradução de Ana Resende. Editora Bertrand Brasil. 112 págs. R$ 24.
As palavras poéticas de Alice Walker, primeira afro-americana a receber o Prêmio Pulitzer e o National Book Award, apresentam ao leitor a cruel realidade de mulheres e crianças afetadas pelas guerras no continente africano e no Oriente Médio. A escritora viajou para Ruanda e Congo, a convite da organização Women for Women International, durante o ano de 2006. Lá teve contato com as sobreviventes dos genocídos ocorridos nesses países. Em 2009, por iniciativa do grupo pacifista CodePink , foi a Israel e Palestina, onde coletou histórias de mulheres destruídas pela violência física, moral e psicológica. Neste livro, as palavras de Alice se tornam a voz dessas mulheres, como um grito de justiça e luta declarada pelos direitos humanos.
Por que ler? Alice aborda com delicadeza temas sombrios, sem superfecializar os relatos de morte e tristeza. As cenas contadas são impactantes e aproximam o leitor de um submundo movido pela esperança e pelo desejo de viver. Os relatos levam o leitor a refletir sobre o contexto caótico e desesperador em que muitos estão inseridos. (MB)
HQEncruzilhada
Marcelo DSalete. Barba Negra, 128 págs., R$ 29,90.
O palco principal onde se desenrolam as cinco histórias de Encruzilhada, do artista plástico e pesquisador da arte afro-brasileira Marcelo DSalete, são as ruas da cidade de São Paulo. O artista constrói o cenário urbano com traços sujos e opressivos, e faz de seus personagens seres alheios ao macrocosmos, ao mesmo tempo em que são marginalizados pela sociedade. Um garoto que rouba um casaco num café, um policial que precisa comprar um presente para o filho, uma mulher que tem seu celular roubado pelo primo viciado em crack e pede para que o namorado dê um susto nele. É com esse material, as situações simples de uma vida dura, que DSalete trabalha.
Repare: Os quadros que o artista compõe são recheados de referências a grifes e objetos de consumo dos mais procurados, como refrigerantes, restaurantes de fast-food e marcas de roupa. O consumismo é um tema central na obra de DSalete. Esse aspecto é o ponto de partida de todas para todas as tramas que se desenrolam em Encruzilhada. (YA)
CD
Bossa Nova Around The World
Vários. Putumayo World Music. Preço: R$ 39,90. Bossa Nova.
Lançada no Brasil pela gravadora MCD, a coletânea Bossa Nova Around The World traz 12 canções do gênero gravadas por artistas de países como Cabo Verde, Portugal, França, Alemanha, México, Sérvia e Estados Unidos. O disco faz parte da série "Around The World", do mundialmente conhecido selo Putumayo, que já lançou mais de 200 compilações de world music. O encarte traz um texto de introdução sobre a bossa nova e comentários sobre cada artista e faixa.
Por que ouvir? A variedade de países de origem das músicas da coletânea dão uma ideia do alcance que o gênero brasileiro teve em todo o planeta. É interessante ver como o gênero foi incorporado a culturas tão distantes quanto a Coreia do Sul e não apenas em releituras e traduções de composições brasileiras, como "Vakker Natt", versão norueguesa para "Corcovado", de Tom Jobim. Composições próprias, como "Mon Père à Moi", do francês Kad Achour, mostram uma bossa nova já diluída entre influências como as músicas pop francesa e espanhola.
INTERNET
Blog Dia de Clássicowww.gazetadopovo.com.br/blog/diadeclassico
O que é bom merece ser lembrado este poderia ser o mote do blog Dia de Clássico, produzido pelo repórter e colunista da Gazeta do Povo, Rogério Galindo. Saindo de sua área de atuação no jornalismo, que é a política, Galindo escreve aqui sobre clássicos da cultura: livros, obras dos grandes compositores e filmes às vezes quadrinhos e seriados de tevês também ganham espaço. Uma amostra dos últimos posts do blog: a Sétima Sinfona de Beethoven, com vídeo da versão do regente Carlos Kleiber; Pastoral Americana, de Philip Roth, e Fogo Pálido, de Vladimir Nabokov; o retrato de Ana de Cléves, pintado por Holbein para o rei Henrique VIII.
Por que ler? É instigante ler reflexões sobre obras que sobrevivem bem ao passar do tempo. No caso da música, o blog explora as possibilidades do multimídia oferecendo vídeos com amostras da peça O autor usa um tom informal, mas que não esconde o respeito aos mestres. (MS)







