• Carregando...
Para aceitá-la continue na linha”: Carlos Freitas em seu estúdio. | Antônio More/Gazeta do Povo
Para aceitá-la continue na linha”: Carlos Freitas em seu estúdio.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Carlos Freitas espera o dia que seu telefone vai tocar. Do outro lado da linha, espera que seja sua advogada com boas notícias.

Em 1987, o músico, engenheiro de som e inventor recebeu o pedido de um amigo — então diretor da Telepar — para criar uma melodia simples de cinco notas. A música serviria de vinheta ao serviço de “chamadas a cobrar”, que seria implantado pela empresa no ano seguinte.

Freitas criou um timbre próprio no sintetizador usado pela banda de baile Sanjazz do clube Santa Mônica, da qual era o baterista. Com este som novo, compôs três opções de “musiquinhas” parecidas.

Freitas mostra como criou a melodia de cinco notas da camada a cobrar.

Antônio More/Gazeta do Povo

Quem já precisou fazer uma ligação de emergência conhece bem aquela que a Telepar escolheu. Na época, Freitas não fez contrato pela criação pois achava que seria usada somente no Paraná.

Um dia, pouco tempo depois, recebeu uma ligação a cobrar de um amigo maranhense e ouviu sua composição antes de completar a chamada.

“Perguntei para ele se tocava lá também ele me respondeu que o povo tinha posto até letra; ‘tem po-bre li-gan-do pra mim’. Então descobri que a música estava sendo usada por todas as operadoras públicas.”

Só então, Freitas tratou de registrar sua composição e começou um disputa judicial para receber os direitos autorais pelo uso de sua composição no país todo.

“Lembro que quando entrei com o pedido de reconhecimento de autoria, os caras se assustaram: ‘Mas alguém fez isso?’Achavam que tinha caído do céu.”

Primeiro na mão de um escritório de Brasília, e depois com a advogada curitibana Eliane Zenamon, especialista em direito autoral, o processo está tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em Recurso Especial, última fase do processo ates da decisão final.

A advogada disse não falaria sobre detalhes do processo em razão do sigilo profissional e resumiu como “alta” a estimativa de uma possível indenização.

Em 1990, no tempo dos telefones fixos, Freitas recebeu um laudo da Telebrás que eram feitas em média 50 milhões de chamadas a cobrar por dia (Faça as contas dos direitos autorais disso dia após dia, ano após ano).

“Queria receber, se for reconhecido meu direito em vida”.

Aquarius Band e Megadrones

Nascido em Porto Amazonas, região Sul do estado, e criado no recém-construído Centro Cívico, Freitas era daqueles meninos que “desmontavam o rádio da família para montar de novo”.

Apaixonado por eletrônica, montou uma oficina e matriculou-se no curso técnico do antigo Cefet. Largou porque considerava os estudos caseiros mais avançados.

Ao mesmo tempo, iniciou a carreira de músico profissional. Era o baterista da banda “Os Carcarás” uma das pioneiras do rock no Paraná,que teve por mais de um ano um programa próprio aos domingos no Canal 12 (atual RPC).

Por ter o mesmo empresário que agenciava Roberto Carlos no Paraná e Santa Catarina, a banda abria todos os shows do “rei” na região. “Era uma loucura, as meninas rasgavam nossa roupa”.

A “era” da Aquarius Band : o baterista Carlos Freitas de óculos, no centro, agachado.

Arquivo José Willie

Freitas migrou com parte da banda para a lendária Aquarius Band, a mais famosa formação de banda de baile no estado durante a década de 1970

Em 1975, começou a trabalhar no estúdio de gravação Sir, no Batel, o mais importante da cidade nas duas décadas seguintes.

Freitas sempre foi inventor. Construiu em quatro meses a primeira mesa de gravação do Sir com 32 canais, feito a partir de material eletrônico trazido de São Paulo. “Ficou uma beleza. Gravamos muita coisa boa nela por anos”.

Hoje ele se dedica a invenções maiores e mais modernas: megadrones para o lançamento de satélites, um modelo de turbina solar e eólica em forma de pinheiro araucária e um modelo de trem elétrico suspenso para transporte de passageiros na cidade e de cargas até o Porto de Paranaguá.

“Se eu consegui receber em vida a indenização, uma das coisas que eu faria seria um protótipo de um vagão. Para mostrar que o negócio funciona.”

Mas só no dia em que a advogada ligar com as boas novas.

“Pode até ser a cobrar.”

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]