
Termina amanhã a temporada de Peça Ruim, segunda parte da trilogia iniciada pela Cia. de Bife Seco com Vivienne. Quem acompanhou a carreira do homenageado Gerald Thomas aproveita diversas alusões a trabalhos do diretor que liderou a vanguarda brasileira entre os anos 1970 e 1990. E mesmo sem as famigeradas "referências" artísticas, quem chegar ao Espaço Cênico pode se divertir.
Partindo de atores e personagens da obra de Thomas, o diretor Dimis Jean Sores inicia o espetáculo com elementos do absurdo para revelar em seguida estarmos todos no ensaio de mais uma peça ruim de Gerald Thomas o elenco não gosta dela e a crítica certamente a destruirá. "Eles precisavam de alguém para crucificar e me escolheram", acusa em uma de suas falas Má Ribeiro, que encarna o diretor icônico assim como este recebeu a plateia em Gargólios, último espetáculo a apresentar em Curitiba, no Festival de Teatro deste ano.
Nessa peça caótica, a tensão que surge entre a atriz russa Irina Arkadina (Luiz Bertazzo) e o diretor coloca todos em crise, e só um estagiário de Mefistófeles e um crítico zumbi podem sugerir uma saída.
Um ponto alto da peça é o diálogo de Gerald com sua consciência em meio a suas dúvidas, assim como o consolo que encontra para sua perseguição no colo de Irina representante do teatro naturalista, ela leva o nome de uma das personagens de A Gaivota, de Anton Tchékhov.
Em torno do conflito, Fernanda Montenegro (Patrícia Cipriano), Luiz Damasceno (Sávio Mallheiros) e Domingos Varella (Jeff Bastos), atores que integraram espetáculos do mestre, realizam cenas ritmadas.
A comédia de imitações é interrompida em momentos de "solilóquio", em que os atores dissertam sobre questões inerentes à arte. Mais do que as duas horas e vinte minutos da peça, que passam num instante, são essas pausas para pensar que interrompem o ritmo do espetáculo.
Só a entrada de Patrícia Cipriano presa por uma corda interpretando Daniela Thomas, encenadora que foi casada com Gerald, já daria uma nova peça.
A ousadia da mistura de registros, por outro lado, conta pontos para a tríade que começou bem em 2010, rendendo cinco indicações ao Gralha Azul para Vivienne. Esperemos a finalização dessa série que fala muito sobre o próprio teatro.



