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Cênicas

Grupos fazem ponte aérea criativa

1.º Rumos Teatro do Itaú Cultural apoia projetos da Cia. Brasileira, CiaSenhas e Cia. Silenciosa

Henrique Saidel, Léo Glück e Giórgia Conceição, da Silenciosa | Alessandra Haro/ Divulgação
Henrique Saidel, Léo Glück e Giórgia Conceição, da Silenciosa (Foto: Alessandra Haro/ Divulgação)
Luiz Bertazzo na performance que inspirou a parceria da CiaSenhas |

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Luiz Bertazzo na performance que inspirou a parceria da CiaSenhas

Espanca! e Cia. Brasileira se encontraram no ACTO 2, em Belo Horizonte |

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Espanca! e Cia. Brasileira se encontraram no ACTO 2, em Belo Horizonte

Um grupo de teatro do Rio Grande do Norte e outro do Rio Grande do Sul marcam dois encontros, tendo o compromisso de apresentar, ao fim de alguns meses de pesquisa, os resultados criativos do jeito que preferirem: performance, cena, texto, debate, tanto faz. Aproximar dessa maneira livre artistas de cantos distintos do país, provocando-os a trocar experiências, é a ideia condutora do 1.º Rumos Teatro, promovido pelo Itaú Cultural.

Alguns encontros não exigirão viagens tão longas quanto a dos potiguares do Clowns de Shakes­peare até os gaúchos do Ói Nóis Aqui Traveiz. É o caso da promissora ponte aérea entre a Cia. dos Atores, carioca, e Os Fofos Ence­nam, paulistas. Rio de Janeiro e São Paulo, aliás, são campeões entre os 24 selecionados: foram quatro grupos de cada estado (leia mais no quadro abaixo).

O Paraná ficou logo atrás, com três eleitos. A CiaSenhas vai a São Paulo trabalhar com o Núcleo Argonautas. A Silenciosa fica por perto, numa parceria com o grupo catarinense ERRO. E a Cia. Brasileira de Teatro retorna a Belo Horizonte para criar com o Espanca!.

Visitantes

A Silenciosa e o ERRO se conheceram nos chafarizes da cidade, durante o Festival de Curitiba, em 2003, quando a companhia curitibana apresentava a performance Aqui Você Verá. Meses depois, foi a vez de repetir a ação num chafariz do centro de Florianópolis, com a participação do grupo da casa. Desde lá, os artistas dialogam sobre interesses em comum, sobretudo o modo como não distinguem a postura estética da política.

Essa linha de raciocínio se aplica a tornar o espaço público "realmente público", para que "as pessoas interajam de forma criativa, saindo do contexto pré-programado de ações comuns", diz Giórgia Conceição, atriz e uma das diretoras da Silenciosa. "A cidade não está acostumada com um fluxo diferente do comum. Isso é estético e político."

Com o projeto "Salsichão no Boqueirão/Tainha na Prainha", aprovado pelo Rumos, querem cartografar espaços das duas capitais, registrando o que lá acontece, para pensar a presença cênica, mas também a mediação dessa presença pela tecnologia.

Nas primeiras viagens que planejam, o grupo visitante vai receber do outro um roteiro de lugares a percorrer e ações a realizar. Não necessariamente o Boqueirão – o "turismo gastronômico" do título é uma piada, com alguma ironia antropofágica –, mas regiões além do centro. O público primordial será o do próprio local, de preferência sem aviso. Também estudam a possibilidade de transmitir as ações a outros, estes, sim, alertados.

Pacotes

O Espanca! e a Cia. Brasileira de Teatro combinaram trocar pacotes. Literalmente. "Vamos criar uma correspondência material e enviar pelo correio, qualquer coisa que tenha um sentido de provocação. O outro grupo terá um tempo para dar uma resposta criativa, com uma cena ou texto ou vídeo", explica o diretor Márcio Abreu, da Brasileira.

O projeto, batizado de "Um Ou­­­tro Si Mesmo – Troca de Pacotes", consolida uma aproximação entre o grupo mineiro e o curitibano que já vem de alguns anos. Em 2007, os dois se uniram ao XIX, de São Pau­­lo, para um intercâmbio artístico no ACTO 1, em Belo Horizonte. No mês passado, repetiram o feito, no ACTO 2.

"Tanto o Espanca! quanto nós colocamos o desafio do teatro no campo da dramaturgia: o que dizer, como dizer e a quem dizer", diz Abreu, justificando a afinidade. Está nos planos dos grupos tentar aproveitar um dos encontros para, além de desenvolver as criações motivadas pela correspondência, trazer a Curitiba o espetáculo Marcha para Zenturo, parceria dos mineiros com o XIX inédita por aqui.

Ficção

A aproximação da CiaSenhas com o Núcleo Argonauta, por sua vez, se deu por uma coincidência de planos. Em Curitiba, a primeira buscava notícias de jornal pensando em ficcionalizá-las para "chegar mais próximo da verdade". Criou, assim, a performance e o espetáculo Homem Piano, pelo projeto Narrativas Urbanas. Em São Paulo, o Núcleo Argonautas vasculhava documentos de arquivos públicos para um projeto semelhante, o Terra Sem Lei, que ocupou escadarias e restaurantes.

Os grupos propuseram ao Ru­­­mos juntar pesquisas. "O foco, tan­­­to dos Argonautas quanto nosso, é a dimensão da narrativa: no corpo, no espaço e no texto", diz Suely Araújo, diretora da CiaSe­nhas.

Depois de notícias e documentos, as companhias agora pensam que matéria tomarão como ponto de partida para explorar o espaço público. Planejam uma oficina de performance e devem levar adiante o interesse mútuo pelas relações humanas mais íntimas, investigando a dificuldade de se confiar no outro.

No segundo semestre de 2011, quando forem apresentar os resultados ao Itaú Cultural, Argonautas e CiaSenhas pretendem mostrar a pesquisa no estágio em que estiver."Isso nos desafoga do compromisso de um produto", diz Suely. "A proposta do Rumos é esse grande laboratório de avanço na própria poética", sintetiza.

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