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Mariane Torres e Patrícia Wöhlke, coordenadoras do setor de Literatura da Fundação Cultural. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Mariane Torres e Patrícia Wöhlke, coordenadoras do setor de Literatura da Fundação Cultural.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Houve um tempo, em Curitiba, que sinônimo de biblioteca de rua atendiam pelo nome de “Kozák”, “Franco Giglio”, “Cervantes” e “Nair de Macedo”. Funcionavam casas antigas e estavam ao alcance da vizinhança, sem fricotes. O modelo, diga-se, combinava com a capital que se tornou conhecida por sua escolha pelo pedestre e pelas soluções simples – do Calçadão da XV aos Jardins Ambientais.

Em 1994, com o início de outro modelo – o dos Faróis do Saber – as bibliotecas de rua ganharam outro formato: layout padronizado, quase sempre proximidade com a escola e administração não mais dos órgãos de cultura, mas de educação. Os faróis fizeram fama internacional, tanta que o poder público não ousaria fechá-los, apesar do argumento de que são onerosos, pequenos e inseguros. Mas deixaram de ser construídos, dando lugar a um terceiro modelo – o das bibliotecas escolares, com uma porta para a comunidade. Ninguém conseguiu responder ainda se esse formato econômico, concentrado e escolarizado – no pior sentido da palavra –, tem algum impacto. O que se sabe é que não têm o encanto das bibliotecas “que funcionavam numa casa” ou as que ainda pulsam nos espetaculares faróis.

Pelas mãos da Flor

As responsáveis pelo setor de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Mariane Torres e Patrícia Wöhlke, não demoram em responder à pergunta que todo mundo faz, em se tratando da Casa Kozák. Qual o segredo dessa biblioteca? A resposta é “Florência”.

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Um quarto modelo, e esse ainda gerido pela Fundação Cultural de Curitiba, se desenvolveu em paralelo – as Casas de Leitura. São 13 ao todo, mais o tradicional Bondinho da Rua XV. Começaram no Parque Barigui e se fixaram nas Ruas da Cidadania, no Terminal do Pinheirinho e, tais como suas antepassadas, em ruas, emulando o que significaram um dia a finada Kozák ou e charmosa Franco Giglio – que funcionava na Rua José Domakoski, no Bigorrilho, numa dessas residências de bisavó.

As coordenadoras do setor de Literatura da Fundação Cultural – Mariane Torres e Patrícia Wöhlke – entendem que, no formato Casa da Leitura, em geral bastante sortido, está incluída a estratégia da biblioteca de rua. A Casa Kozák, caso seja mesmo reaberta este ano, vai funcionar debaixo deste selo. Há de se lembrar que o atendimento nesses espaços é terceirizado, sendo mantido pelo Icac – Instituto Curitiba de Arte e Cultura. Há no setor três servidores concursados na Fundação e uma média de 50 contratados pelo Icac. É senso comum que se perde na continuidade – um dos segredos na lida da cultura. Ponto a favor é que as 13 casas são administradas por pessoas ligadas à literatura, não raro estudantes da área de humanas, cada uma delas com a tarefa – em contrato – de desenvolver pelo menos um projeto de leitura. É a joia da coroa.

O resultado merece ser observado. Mariane e Patrícia – que orientam o trabalho dos agentes – calculam que haja pelo menos 15 projetos em curso na cidade. São rodas de leitores, atividades de vizinhança, oficinas, experimentos, debates de gênero... Têm começo, meio e fim, avaliação e exigência de fundamentação. É como se os êxitos das bibliotecas de rua e das outras tenha se sofisticado e se espraiado por aí, de modo a atender as novas necessidades urbanas. Talvez a imagem da turminha do bairro reunida no quintal de uma casa antiga da Vila São Paulo tenha ficado no passado, o que faria dessa conversa pura nostalgia. As duas idealizadoras das Casas de Leitura preferem acreditar que não – tanto que já fazem planos para a “Kozák” versão 3.0. “Há lugar para a biblioteca de rua. E para a de terminal de ônibus”, defendem.

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