
Houve um tempo, em Curitiba, que sinônimo de biblioteca de rua atendiam pelo nome de “Kozák”, “Franco Giglio”, “Cervantes” e “Nair de Macedo”. Funcionavam casas antigas e estavam ao alcance da vizinhança, sem fricotes. O modelo, diga-se, combinava com a capital que se tornou conhecida por sua escolha pelo pedestre e pelas soluções simples – do Calçadão da XV aos Jardins Ambientais.
Em 1994, com o início de outro modelo – o dos Faróis do Saber – as bibliotecas de rua ganharam outro formato: layout padronizado, quase sempre proximidade com a escola e administração não mais dos órgãos de cultura, mas de educação. Os faróis fizeram fama internacional, tanta que o poder público não ousaria fechá-los, apesar do argumento de que são onerosos, pequenos e inseguros. Mas deixaram de ser construídos, dando lugar a um terceiro modelo – o das bibliotecas escolares, com uma porta para a comunidade. Ninguém conseguiu responder ainda se esse formato econômico, concentrado e escolarizado – no pior sentido da palavra –, tem algum impacto. O que se sabe é que não têm o encanto das bibliotecas “que funcionavam numa casa” ou as que ainda pulsam nos espetaculares faróis.
Um quarto modelo, e esse ainda gerido pela Fundação Cultural de Curitiba, se desenvolveu em paralelo – as Casas de Leitura. São 13 ao todo, mais o tradicional Bondinho da Rua XV. Começaram no Parque Barigui e se fixaram nas Ruas da Cidadania, no Terminal do Pinheirinho e, tais como suas antepassadas, em ruas, emulando o que significaram um dia a finada Kozák ou e charmosa Franco Giglio – que funcionava na Rua José Domakoski, no Bigorrilho, numa dessas residências de bisavó.
As coordenadoras do setor de Literatura da Fundação Cultural – Mariane Torres e Patrícia Wöhlke – entendem que, no formato Casa da Leitura, em geral bastante sortido, está incluída a estratégia da biblioteca de rua. A Casa Kozák, caso seja mesmo reaberta este ano, vai funcionar debaixo deste selo. Há de se lembrar que o atendimento nesses espaços é terceirizado, sendo mantido pelo Icac – Instituto Curitiba de Arte e Cultura. Há no setor três servidores concursados na Fundação e uma média de 50 contratados pelo Icac. É senso comum que se perde na continuidade – um dos segredos na lida da cultura. Ponto a favor é que as 13 casas são administradas por pessoas ligadas à literatura, não raro estudantes da área de humanas, cada uma delas com a tarefa – em contrato – de desenvolver pelo menos um projeto de leitura. É a joia da coroa.
O resultado merece ser observado. Mariane e Patrícia – que orientam o trabalho dos agentes – calculam que haja pelo menos 15 projetos em curso na cidade. São rodas de leitores, atividades de vizinhança, oficinas, experimentos, debates de gênero... Têm começo, meio e fim, avaliação e exigência de fundamentação. É como se os êxitos das bibliotecas de rua e das outras tenha se sofisticado e se espraiado por aí, de modo a atender as novas necessidades urbanas. Talvez a imagem da turminha do bairro reunida no quintal de uma casa antiga da Vila São Paulo tenha ficado no passado, o que faria dessa conversa pura nostalgia. As duas idealizadoras das Casas de Leitura preferem acreditar que não – tanto que já fazem planos para a “Kozák” versão 3.0. “Há lugar para a biblioteca de rua. E para a de terminal de ônibus”, defendem.



