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 | Keban Özcan/Divulgação
| Foto: Keban Özcan/Divulgação

Curiosidades

Saiba mais sobre a história da canção "Hallelujah":

Formato

Hoje considerada clássica, a faixa levou anos e muitas páginas para ser composta e remodelada: agora tem quatro estrofes fixas e outras duas adicionais, combinadas ao gosto do cantor.

Regravações

Algumas das versões mais aclamadas são a de Jeff Buckley, John Cale, KD Lang e Rufus Wainwright. Nomes como Dinho Ouro Preto, o vencedor do The Voice Brasil Sam Alves, Willie Nelson, Bon Jovi e o grupo Fall Out Boy também regravaram.

Deslizes

Listadas por Alan Light como as piores covers estão a de Susan Boyle e a de Bono, do U2: "Ele me ligou dizendo que queria pedir desculpas pelo que fez".

Proibida

Localizado em Hollywood, o Hotel Cafe exibe uma placa pedindo para os músicos não tocarem a música, de tanta exaustão. Mesmo sentimento de Cohen depois de aparições em séries e filmes, apesar de a canção ser o ponto alto de seus shows.

Reprodução

Em 2001, cinco versões da música foram registradas; no ano seguinte foram 14; em 2004, mais 20 covers.

Vozes

Leonard Cohen, apesar de ser o autor e intérprete original, não costuma aparecer nas trilhas de filmes e séries. Nesses meios, a música tocou uma vez em 2002, cinco em 2003 e sete em 2004. Sempre nas vozes de outros: Buckley, Cale e até Wainwright.

Na tevê

Um exemplo do uso da faixa é Shrek, que ajudou a popularizá-la. De lá para cá, ela apareceu em Basquiat, The West Wing, House e The O.C..

Definitiva

Jeff Buckley é considerado o intérprete definitivo da música. Sua gravação levou 20 takes até ficar pronta. O cantor, morto em 1997, antes de a faixa estourar, dizia que tomou "liberdades emocionais" e que esperava que Cohen jamais viesse a ouvir sua versão.

Ignorada

As críticas de Various Positions publicadas na época do lançamento, em 1984, sequer mencionavam a música.

Opinião

Popular Problems cativa pela simplicidade

Agência O Globo

Carlos Albuquerque

Deixe a tecla shuffle e os dedos nervosinhos para os outros. A pressa não combina com Popular Problems, novo disco de Leonard Cohen, que chega às lojas quase ao mesmo tempo em que seu autor completa 80 anos. É ele mesmo quem dá o alerta na faixa de abertura, apropriadamente intitulada "Slow" e com leve entonação erótica: "Estou desacelerando a canção/ Nunca gostei disso rápido (...)/ Você quer chegar lá logo/ Eu quero chegar por último", declama, com sua voz de barítono, envolvido por uma base de blues, pontuada por um órgão e por vocais femininos, ambos com DNA gospel.

Com pequenas variações, é esse monástico formato, de cativante simplicidade, que segue pelas outras oito faixas do disco, criando um clima mântrico, resultado da parceria com o produtor Patrick Leonard. Gênio celebrado por nomes como Tom Waits, Bono Vox e Rufus Wainwright, entre muitos outros, Cohen medita, com usual riqueza poética, sobre a complexa condição humana na balada soul "A Street", no tom country de "You Got Me Singing", na quase litúrgica "Born in Chains", no balanço minimalista de "Nevermind", acompanhado pelo canto oriental de Donna DeLory, e na irônica "Almost like the Blues", na qual lista o peso da tortura, dos assassinatos e das críticas negativas que recebeu.

Ela está por toda parte. Embalando filmes, séries e reality shows; em casamentos, formaturas, bar mitzvahs; e até em funerais e tragédias. Com um forte refrão e uma letra que pode ser entendida das mais diversas maneiras, das sexuais às espirituais, "Hallelujah" é, hoje, 30 anos depois de seu lançamento, onipresente. E toda a popularidade da canção do octogenário Leonard Cohen – ele completa 80 anos neste domingo, e comemora com o lançamento de um novo álbum – chega a mascarar o longo e tortuoso caminho que ela levou até se tornar uma das faixas mais amadas e regravadas da História.

Ainda hoje, a versão original lançada pelo cantor canadense no disco Various Positions, de 1984, é desconhecida por muitos. O responsável por dar, de fato, início à trajetória para que a faixa se estabelecesse como um clássico foi Jeff Buckley, com sua regravação no álbum Grace, que chega agora aos 20 anos.

"A gravadora de Cohen não queria nem lançar Various Positions, e, quando o disco saiu, ninguém notou ou mencionou a existência de "Hallelujah" nas reportagens e críticas. E é curioso, porque as outras músicas que ocupam o posto de clássico, como ela agora ocupa, foram percebidas de imediato. "Bridge over Troubled Water", de Paul Simon, "Imagine", de John Lennon... Todo mundo sabia que se tornariam clássicas quando saíram. "Hallelujah" levou anos para ser descoberta e considerada uma canção tão poderosa", conta o crítico musical e ex-editor da revista Spin Alan Light, autor do livro The Holy or the Broken: Leonard Cohen, Jeff Buckley and the Unlikely Ascent of "Hallelujah", de 2012, inteiramente dedicado à música, e sem previsão de publicação no Brasil. "A primeira pessoa que viu algo de especial na canção e a tocou em alguns shows foi Bob Dylan, ainda naquela época. E só dez anos depois de ela sair, Jeff Buckley lançou sua versão, que a apresentou a muita gente. Ali, a música achou sua voz definitiva, e a versão de Buckley se tornou aquela em que as futuras covers se baseariam, tanto que muita gente ainda acha que a música foi composta por ele."

Em suas pesquisas, Light percebeu vários pontos-chave que ajudaram, mesmo que com atraso, a popularizar a música – já que Grace, hoje aclamado, também não fez sucesso logo de cara. Um dos principais, quem diria, foi sua inserção em uma cena da animação Shrek, de 2001 (na voz do ex-Velvet Underground Jonh Cale), em que o ogro verde suspira por sua amada Fiona, apresentando "Hallelujah" a uma outra geração.

No mesmo ano, outro marco, oposto: o luto pelos atentados de 11 de Setembro, cantado por Buckley. O que até então era quase um segredo entre os aficionados por música virou hino global de uma tragédia. Um mês depois, quando lançou Ten New Songs após sete anos de um exílio autoimposto, Cohen viu seu nome pela primeira vez nas paradas americanas desde 1973.

Mutações

A versatilidade de "Halle­lujah" se deve muito à letra da música, tornada mutante a partir do momento em que Cohen resolveu dá-la ao mundo. "John Cale ouviu ‘Hallelujah’ pela primeira vez em um show de Leonard. Isso mostra o quão obscura ela ainda era no início dos anos 1990. Quando foi convidado a participar de um tributo a Leonard, Cale escolheu ‘Hallelujah’ e precisou contatar o escritório do cantor para pedir a letra. O que não era tão simples assim. Leonard escreveu páginas e mais páginas de versos, durante anos, e sempre mudava a escolha e a ordem quando a interpretava ao vivo, tentando achar a combinação ideal. Cale contou que saiu de casa e, quando voltou, sua sala estava coberta de folhas de fax com a letra completa."

John Cale, a quem Alan Light se refere como o "editor" da música, se baseou na versão que Cohen vinha cantando ao vivo, escolhendo outras estrofes, e deu à música uma nova roupagem – acentuada por Buckley. Se a original tinha um humor sarcástico, espelho da maturidade do cantor, então com 50 anos, a performance de Buckley em seus 20 e poucos afastou esse significado.

"É um estado de espírito diferente. A original é uma canção sobre sobrevivência cantada por alguém que teve diferentes experiências, decepções e enfrentou as dificuldades inevitáveis da vida. Ele parece olhar para trás e ver que superou essas coisas. Totalmente diferente de Jeff Buckley cantando essa mesma música aos 24 anos. A versão dele é muito mais sobre descobrir essas decepções, sobre ser jovem e ver suas ilusões românticas se partirem."

A discrepância entre a original e sua versão mais importante, e as liberdades autorais tomadas por Cale, foram o estopim para que ela se tornasse um standard moderno, que cruza gêneros e, depois de muito tempo, vem atravessando gerações.

"Ficou claro, ao longo do tempo, que as pessoas interpretam ‘Hallelujah’ de formas diferentes. Há muitas imagens e ideias possíveis. Quando Cohen gravou a música, ele mesmo não estava certo sobre qual edição dos versos soava certa para ele, ele mudava o tempo todo, o que tornou natural que outros cantores usassem a música dessa forma maleável. E isso só foi possível porque a música não foi um hit logo que foi lançada, porque a original não foi a versão definitiva, e porque ela começou a se tornar conhecida por meio da versão de uma versão", analisa Light.

E esses usos foram (ainda são) muitos: séries como a política The West Wing, a adolescente The O.C. e a dramática House; filmes como a cinebiografia Basquiat – Traços de uma Vida, a comédia Scrubs e os super-heróis de Watchmen; todos usaram, em algum momento, a música como artifício dramático. "Hallelujah" ganhou ainda mais força – e vendeu ainda mais singles – com a profusão de reality shows musicais como American Idol e The X-Factor ao redor do mundo. Na segunda temporada brasileira do The Voice, o cantor Sam Alves venceu a final cantando uma versão mista, em português e inglês, do clássico, mantendo a letra da canção no topo das mais buscadas no portal Globo.com.

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