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Depois de levar "O Cheiro do Ralo" (2006) a Sundance e de concorrer na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes com "À Deriva", em 2009, chegou a vez de o pernambucano Heitor Dhalia testar suas chances de fazer sucesso em Hollywood ao lançar, em 24 de fevereiro, seu primeiro longa-metragem rodado em solo americano, "12 horas" ("Gone").

Orçada em cerca de US$ 18 milhões, a produção, filmada em locações em Portland, no estado do Oregon, traz Amanda Seyfried, de "Cartas para Julieta" (2010), na luta para se salvar de um assassino. Com a estreia, que acontece simultaneamente no Brasil, Dhalia se junta ao time de cineastas brasileiros popularizados com a Retomada que faz carreira no cinema internacional, como Walter Salles, Fernando Meirelles, Carlos Saldanha e José Padilha, que filma a nova versão de "RoboCop" este ano.

"Hitchcock é sempre uma referência quando se faz thriller. Ele era um mestre do cinema de gênero, que fazia filme para o grande público. Ele gostava de louras. O meu filme é um trilher com uma loura como protagonista. De alguma maneira, isso já mostra que ´12 horas` tem a ver com ele. Só que com um ritmo mais acelerado, mais contemporâneo", diz o cineasta, radicado em São Paulo, que voa neste sábado para Los Angeles para acompanhar os preparativos do lançamento do filme.

Com roteiro de Allison Burnett, que escreveu "Outono em Nova York" (2000) para Richard Gere e Winona Ryder, "12 horas" traz Amanda como Jill, uma garçonete que tenta se recuperar de um trauma sofrido há dois anos, quando ficou à mercê de um psicopata. Jill escapou da morte e refez a vida. Mas depois que sua irmã, Molly (Emily Wickersham), desaparece, ela passa a acreditar que a jovem está nas mãos do mesmo criminoso, agora sedento por um acerto de contas. Como a polícia não acredita nela, Jill terá que agir sozinha para salvar Molly.

"Durante todo o filme, não sabemos se foi isso que aconteceu ou se Jill está louca", diz Dhalia, que já havia trabalho com atores estrangeiros em "À Deriva": o francês Vicent Cassel e a americana (de mãe brasileira) Camilla Belle. O elenco de "12 horas" reúne ainda Jennifer Carpenter, a tenente Debra da série "Dexter", e Wes Bentley, o traficante de "Beleza Americana" (2000). O filme também resgata um galã dos anos 1980, Michael Paré, protagonista de "Ruas de Fogo" (1984) e "Execução Sumária" (1986).

"Não dá para dizer que Amanda é a minha Grace Kelly, até porque ela não faz o gênero princesa de jeito nenhum. É uma menina normal, que faz tricô no set", brinca o diretor, que completa 42 anos no próximo dia 18.

Ganhador do prêmio especial do júri no Festival do Rio 2006 e laureado em mostras em Guadalajara, no México, e Lima, no Peru, "O cheiro do ralo" serviu como um cartão de visitas para Dhalia desde sua exibição em Cannes. Elogios recebidos pela adaptação do romance homônimo de Lourenço Mutarelli serviram de estímulo para que o cineasta buscasse um agente que o representasse no exterior. Com a passagem de "À deriva" por Cannes, ficou mais fácil cavar propostas nos EUA.

"Eu já estava conversando com produtores em Hollywood há algum tempo. Ia dirigir um projeto chamado "April 23", para a produtora Lakeshore, e "If I stay", para a Summit. Por várias razões, os dois projetos não aconteceram. Então surgiu "12 horas", uma coprodução entre as duas empresas e a Sidney Kimmel Entertainment. Este é um filme de estúdio onde meu trabalho foi muito mais de realizador do que de autor. Vi como funciona o studio system de Hollywood. É uma maneira diferente de fazer, que eu nunca havia experimentado. Foi um aprendizado importante", diz Dhalia, que idealizou o visual do filme com o apoio do diretor de fotografia Michael Grady, parceiro de William Friedkin no cult "Possuídos", de 2006.

Em 2005, antes de concluir "O Cheiro do Ralo", Dhalia foi sondado pelo produtor inglês Sam Sterling para filmar o romance-reportagem "Abusado", do jornalista Caco Barcellos. Mas o projeto não saiu do papel, mostrando ao diretor que o Brasil não é a única cinematografia sujeita a dificuldades de verba. "Agora eu vejo que Hollywood é um sistema de produção bem heterogêneo. Cada produtora, cada estúdio funciona dentro de suas próprias regras. Ou seja, é difícil dizer que Hollywood trabalha de determinada maneira", disse.

O cineasta inicia em março a produção de seu novo longa: "Serra Pelada", sobre a região do Pará conhecida nos anos 1980 como um dos mais disputados garimpos do país. Com distribuição assegurada pela Warner Brothers, o filme vem sendo definido como um faroeste contemporâneo, que traz Wagner Moura como protagonista. Ele e Dhalia trabalharam juntos no longa de estreia do cineasta: "Nina", de 2004.

Paralelamente ao filme de Dhalia, o cineasta Victor Lopes, que lançou na sexta-feira (6) a comédia "As aventuras de Agamenon, o Repórter", finaliza um documentário sobre Serra Pelada. "O filme vai retratar a história de dois amigos e como seus destinos divergem quando eles são consumidos pela febre do ouro. É um filme de pegada forte, com ação. Quero produzir cenas que traduzam a maior corrida do ouro da América Latina na era moderna", disse. "Voltar a filmar no Brasil é um luxo em muito sentidos. O primeiro deles é a liberdade criativa, a começar por falar a sua própria língua. A experiência de filmar em Hollywood me ajudou a amadurecer como diretor em muito sentidos. E o principal deles foi de valorizar ainda mais o nosso país e a nossa cultura", completou.

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