
Na clássica "Walk on the Wild Side", Lou Reed (1942-2013) evoca no refrão as "garotas de cor" (coloured girls), que iluminam a canção com seus inesquecíveis "do do do do doos". Não há na face da Terra quem tenha ouvido essa música sem ter cantado junto com elas pelo menos uma vez. No entanto, quase ninguém sabe de quem são aquelas vozes. Neste caso, trata-se do trio inglês Thunderthighs, formado pelas cantoras Karen Friedman, Dari Lalou e Casey Synge, bastante ativo na década de 70.
Mas e quanto aos agudos rasgados que acompanham a voz de Mick Jagger em "Gimme Shelter", dos Rolling Stones? E as poderosas vozes femininas que reforçam a de Joe Cocker na comovente "With a Little Help from My Friends"? E o refrão gospel de "Young Americans", de David Bowie, é cantado por quem? As respostas a essas perguntas podem ser encontradas em A um Passo do Estrelato, documentário que venceu o Oscar no domingo passado, contrariando as apostas dos críticos, que apontavam o indonésio The Act of Killing como favorito.
Na mesma linha de Procurando Sugar Man, que venceu o Oscar de melhor documentário no ano passado ao contar a história do músico Sixto Rodriguez, A um Passo do Estrelato também revela um caso de superação: o das principais vocalistas de apoio (background singers) da indústria musical norte-americana. Com entrevistas de nomes como Bruce Springsteen, Stevie Wonder, Bette Midler e Sheryl Crow, o longa-metragem do jornalista e cineasta Morgan Neville traz à tona os dilemas de artistas que, por escolha ou necessidade, ficam sempre em segundo plano. "Uma background singer precisa entrar no estúdio, fazer tudo soar maravilhosamente bem, ganhar quase nenhum crédito e ir embora rápido", define sem rodeios o cantor David Lasley, que já emprestou sua voz a canções de James Taylor e Aretha Franklin.
Darlene Love, principal personagem do filme, que o diga: xodó do produtor Phil Spector nos anos 1960, ela era obrigada a gravar canções que posteriormente eram creditadas a outros artistas. Caso do megahit "Hes a Rebel", que atingiu o topo da Billboard em 1962, e até hoje é atribuído ao trio The Crystals.
Voo solo
Em busca dos holofotes só para si, Darlene tentou carreira solo, assim como várias outras colegas de profissão. Entre elas, está a talentosíssima Merry Clayton, uma das Raelettes, grupo que acompanhava Ray Charles (1930-2004); Táta Vega, que chegou a lançar três discos solo pela gravadora Motown; e Claudia Lennear, uma das Ikettes (grupo de vocalistas que acompanhavam Ike e Tina Turner) e tida como musa inspiradora do clássico "Brown Sugar" (The Rolling Stones). Todas acabaram desistindo de brilhar por si mesmas. "Não é uma questão de talento, mas de circunstância, sorte e destino", tenta explicar Sting, que é todo elogios para a backing vocal Lisa Fischer, dona de uma das vozes mais impressionantes do documentário.
"Quando as pessoas pensam na música pop e em todos os seus refrões marcantes, elas estão, na maioria das vezes, cantando junto com a gente", resume Janice Pendarvis, cantora de apoio de David Bowie e Blondie, entre outros. GGG1/2
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