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Música

Homenagem à grande sambista

Aos 89 anos, Ivone Lara será homenageada hoje no Rio de Janeiro. No último sábado, ela soltou a voz em um Guaíra quase lotado

Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo | Antonio More/ Gazeta do Povo)
Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo (Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo))

Ela chega para a entrevista em uma cadeira de rodas. Duas pessoas a ajudam a se acomodar na poltrona, onde tira as luvas roxas, mas não o cachecol e o casaco de lã, também roxos. "Que frio", sussurra Dona Ivone Lara, esfregando as mãos e se preparando para conversar com os jornalistas.

A cena se passou na tarde da última sexta-feira, em um hotel de Curitiba. No sábado seguinte, a sambista de 89 anos se apresentaria para um Teatro Guaíra quase lotado.

A homenagem foi idealizada por Arlindo Ventura, o Magrão, proprietário d’O Torto Bar. Ele é o criador do evento Quadra Cultural, que trouxe a Dama do Samba à cidade. "Mais uma vez estou aqui. Estou grata pela companhia de vocês", diz a carioca, encorujada.

A homenagem que recebe hoje durante a entrega do Prêmio de Música Brasileira, no Rio de Janeiro, é só mais um adendo na história daquela que é a síntese da nobreza do samba no Brasil. Ivone Lara foi aluna de Lucila Guimarães, primeira esposa de Villa-Lobos, tendo cantado sob a regência do maestro. Depois aprendeu a tocar cavaquinho e se casou com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, futura Império Serrano. E justamente na sua escola de coração, veio a consagração com "Os Cinco Bailes da História do Rio", de 1965: se tornou a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma agremiação.

"Não gostavam muito que mul­­her fizesse samba-enredo", conta a cantora, de pés juntos e imóveis. "Mas teve muitos fogos naquela noite", lembra, sorrindo.

Mesmo com carreira artística consagrada, Dona Ivone nunca abandonou a enfermagem e seguiu na profissão até sua aposentadoria, em 1977. Então passou a se dedicar exclusivamente à música. A gravação do primeiro LP, Samba, Minha Verdade, Minha Raiz só aconteceu em 1979, impulsionada pela explosão de "Sonho Meu", em dueto histórico de Maria Bethânia e Gal Costa.

Em Curitiba, ela apresentou seu primeiro DVD, gravado em 2009 em parceria com Caetano Veloso, Beth Carvalho, Jorge Aragão, Délcio Carvalho e outros. E continuará a cantar até quando puder. "Se o papai do céu deixar, eu continuo. Enquanto ele me der voz, eu vou aproveitando", conta, enrolando os dedos uns nos outros. A primeira vez de Ivone Lara em Curitiba foi em 1987.

O show

Mais uma homenagem nostálgica do que uma apresentação digna de análise crítica. Em resumo, esse foi o tom dos cerca de 40 minutos em que Ivone Lara esteve no palco do Guaíra. Com uma banda de apoio de oito músicos – que teve dificuldades técnicas visíveis –, a sambista foi ajudada pelo neto, André Lara, a lembrar da ordem das músicas e, por ve­­zes, das letras.

Mas o caráter festivo – quem sabe uma despedida – tem o aval da própria homenageada, que diz com firmeza empolgante. "Toda vez que me chamarem, estarei pronta para comparecer".

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