
Enquanto você acompanha este texto, o jovem curitibano João Krefer, 23 anos, está no outro lado do globo representando o Brasil em um prêmio mundial de vídeos produzidos com celulares, o Hong Kong International Mobile Film Awards.
O estudante de Cinema da escola Cinetv-PR, da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), concorre com dez outros filmes do gênero vindos de diversos países. A obra em questão é um experimento com mídia móvel chamado Julho, com pouco mais de um minuto de duração.
O ponto de partida para esse reconhecimento internacional foi quando o curta levou o prêmio da Mostra Regional Sul do festival Vivo Arte.Mov, em 2010. A utilização de novas plataformas se torna cada vez mais comum nas premiações, telonas (e telinhas), e a premiação do trabalho de Krefer pode ser um belo exemplo para uma futura leva de diretores locais.
"O celular é o Super 8 da nossa geração, com a diferença de que ele atinge um público amplo no Brasil. As câmeras Super 8 eram muito caras na época, enquanto o celular tem um valor acessível. Imagino que, em 50 anos, vamos ter um enorme banco de imagens na internet, e esse material vai virar foco de fetiche exatamente como o que as pessoas alimentam hoje em busca de imagens antigas", profetiza Krefer em entrevista à Gazeta do Povo.
Julho começou por acaso e com um mês de atraso. "Eu evito trabalhar com roteiro. O que aconteceu foi uma grande coincidência. Em agosto do ano passado, eu resolvi captar algumas imagens no que foi considerado o dia mais frio de Curitiba nos últimos 12 anos. Estava em casa filmando as janelas transpirando com a cidade ao fundo. Tudo instintivo e nem um pouco planejado", revela o jovem diretor.
O filme se apropria da mobilidade tecnológica e conduz o espectador por um exercício contemplativo que dura alguns segundos. A cidade parece derreter através das janelas captadas bem de perto, e o que se revela é uma inesperada perspectiva da paisagem urbana. Um lembrete de quão gratificante é a descoberta de um diferente olhar sobre nossa vizinhança. Sobre isso, Krefer conta que trabalha "com banco de imagens". "Depois de captar várias sequências, eu vou refletir sobre o material colhido e como posso aproveitá-lo. Normalmente, o filme acontece durante a montagem" conclui.
Música
A trilha sonora do curta é uma peça do musicólogo e compositor mineiro Harry Crowl, que mora em Curitiba desde meados dos anos 90 e é o diretor artístico da Orquestra Filarmônica da UFPR. "Conheci o trabalho do Harry durante uma apresentação que aconteceu no Guaíra, em comemoração ao seu aniversário de 50 anos. Gostei bastante de suas músicas", relembra Krefer.
Um solitário piano colore o devaneio cinza do diretor. "Inicialmente eu escolhi essa faixa pela noção estética. Fui descobrir depois que o conteúdo da obra é inspirado na ideia da contemplação de uma estátua, que aprecia o horizonte sem nenhuma pressa". A música de Crowl também já foi utilizada por Fernando Severo no curta Visionários, de 2003
A amizade entre Krefer e o compositor iniciou-se com a ideia de um filme sobre sua vida e obra. Desde então, o estudante de cinema recolhe imagens de apresentações e concertos, para reunir um banco de imagens especial: "Estou fazendo por conta própria, sem nenhum tipo de orçamento envolvido. Gosto de trabalhar deste jeito por uma questão estética".
Essa relação com a música não é nenhuma novidade. O primeiro trabalho lançado por Krefer foi o videoclipe da banda curitibana Wandula, com a faixa "Fallen Angels", em 2008.
Serviço
Confira os 10 vídeos finalistas do Hong Kong International Mobile Film Awards: http://www.hkimfa.com/publicVoting.html





