
No dia 26 de março, durante o Festival de Curitiba, estreava a peça Ópera Atômica, da Damasceno Companhia de Teatro. A atriz Rosana Stavis causou espanto. Foi aplaudida em cena aberta após sua personagem cair no palco, vítima de um tiro fatal. Desconcertou também seus colegas atores, que precisaram de algum tempo para recuperar a atenção. E fez com que críticos lembrassem de seu nome e quisessem saber mais sobre sua carreira. Conseguiu, inclusive, arrancar lágrimas de desespero de filha Júlia, que pensou que a mãe realmente havia sido assassinada.
Há tempos o sucesso bate à porta da casa de Rosana. Casa, aliás, localizada na 13 de Maio, rua em que há pelo menos cinco teatros. Seu talento foi descoberto ainda em São Mateus do Sul, cidade onde nasceu. Com 13 anos, foi escolhida para atuar em Pluft, o Fantasminha, peça infantil de Maria Clara Machado. Teria sido aplaudida em cena aberta já naquela época. "Mandei ver e fui superbem. Foi aí que pensei: tenho dom para isso", diz a atriz, que cogitou ser veterinária e se entregou às artes no último instante.
Em 1989, Rosana trabalhava em um banco de Curitiba. Vida de Galileu, de Bertolt Brecht (1898-1956), que tinha Paulo Autran no elenco estava prestes a entrar em cartaz. A produção selecionava novos atores. E lá foi Rosana, na última hora do último dia de testes. Foi selecionada. "Eu já tinha me formado em Artes Cênicas pela PUC, mas tinha muita insegurança quanto à minha profissão. Mas, logo depois, pedi demissão do banco para tentar de vez a carreira de atriz", comenta Rosana, que participou de mais de 50 peças em duas décadas de carreira.
As últimas foram Ópera Atômica e Árvores Abatidas ou para Luís Melo. A atriz também canta no grupo Denorex 80 e chegou a se apresentar três vezes em um só dia do Festival. "Fiquei doente", diz.
Enquanto Ópera Atômica arrebatou fãs e sacudiu a crítica e retornou ao teatro Regina Vogue neste final de semana Árvores Abatidas ou para Luís Melo mexeu com os brios de quem faz a cena teatral curitibana. A peça, baseada no livro de Thomas Bernhard e adaptada por Marcos Damasceno, é quase um ensaio tragicômico sobre a profissão de dramaturgo e seus pares.
"Alguns atores acharam que não se poderia fazer um ataque tão direto à classe artística. O Alexandre Nero, por exemplo, saiu chocado. Disse que era um tapa na nossa cara. Outros só riram e se divertiram. Mas foi bom. Causou bastante polêmica e eu me rendi ao espetáculo", explica a atriz.
Foram seis meses ensaiando quatro horas por dia no espaço, logo atrás da casa em que vivem Rosana, o diretor Marcos Damasceno e Júlia "a melhor produção do casal". O local de ensaios também serve como um pequeno teatro adaptado.
Rosana Stavis já morou no Rio de Janeiro, quando fez ponta na novela Malhação. Participou de filmes, como o curta-metragem Hóspede Secreto, de Fernando Severo. Contracenou com Lázaro Ramos em Cafundó, filme de Paulo Betti e Clóvis Bueno, e fez parte do elenco da novela Paraíso Tropical, da Rede Globo. Mas foi em Curitiba que obteve suas maiores conquistas.
Entre outros tantos prêmios, ganhou o Troféu Gralha Azul de 2004 com o monólogo Psicose 4h48, de Sarah Kane (1971 - 1999). Mesmo sendo a peça mais difícil com a qual já se deparou.
"Estava grávida quanto resolvemos montar o espetáculo. O tema [psicopatia] é pesado, muito forte. E eu estava sensível por causa da gravidez", comentou. "Você tem de separar o personagem das suas coisas. Senão você pira."
E seu sucesso, reafirmado no Festival de Curitiba, não é mágico. Pode ser descrito como uma forma de equilíbrio para se manter vivo. "Marco Nanini disse, uma vez, que sucesso e fracasso estão presentes em toda a nossa vida. Se você não mantiver um equilíbrio, que é o trabalho diário, você está morto."




