
O tamanho do nome de Hans Jacob Christofell von Grimmelshausen (1622-1676) combina com o livro que o inscreveu na história da literatura. Nunca antes traduzido para o português, O Aventuroso Simplicissimus chega ao Brasil pela Editora UFPR, da Universidade Federal do Paraná.
Em entrevista por e-mail, o tradutor Mario Luiz Frungillo não arrisca listar os motivos para o clássico alemão, publicado em 1668, quando os romances ainda não eram levados a sério, permanecer inédito no país por tanto tempo. "Devem ser vários", diz o professor da Universidade de Campinas.
Ele ficou sabendo da existência de O Aventuroso Simplicissimus no estudo A Literatura Alemã, do crítico Otto Maria Carpeux, e decidiu traduzir porque não aceitava o ineditismo.
"Uma historiadora inglesa da Guerra dos Trinta Anos (ocorrida de 1618 a 1648 entre países europeus por questões de religião, propriedade e comércio) disse que o Simplicissimus é um pesadelo em forma de romance. Ter feito de uma experiência infernal uma obra literária de tão grande conteúdo humano é um daqueles milagres que fazem da leitura de um livro dessa natureza uma experiência inesquecível", diz Frungillo.
O subtítulo é extenso e dá uma ideia do que você vai ler: "A descrição da vida de um singular vagante chamado Melchior Sternfels von Fuchshaim, onde e com que aspecto ele veio a este mundo, o que nele viu, aprendeu, experimentou e sofreu, e também por que voluntariamente o abandonou".
Influenciado pelos romances espanhóis da época, principalmente por Rinconette e Cortadillo, de Cervantes autor de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha (1605) , Grimmelshausen criou um herói picaresco para protagonizar sua história, o tipo espertalhão que consegue sobreviver graças aos golpes que aplica nos outros (em geral, pessoas com situação melhor do que a sua).
Há quem defenda O Aventuroso Simplicissimus como o título fundador do romance de formação (bildungsroman, em alemão). Na verdade, classificá-lo com apenas um gênero é impossível. Estudiosos apontam características que somam biografia, sátira e relato de viagem a vários outros.
No posfácio, o professor Mauricio Mendonça Cardozo, da UFPR, escreve: "Mais do que protótipo do romance de formação, o Simplicissimus é o romance de um mundo em formação e de um homem em formação. (...) Trata-se, portanto, do romance da passagem, da transição e do transitório, do efêmero, da instabilidade do sentido do homem no mundo e do mundo como sentido instável para o homem".
Serviço
O Aventuroso Simplicissimus, de Hans Jacob Christoffel von Grimmelshausen. Editora UFPR, 668 págs., R$ 67.
Na internet: www.editora.ufpr.br



