
Rio de Janeiro - Desde o surgimento do folhetim no século 19, e mais ainda, desde que a ficção é ficção que a oposição entre aparência e caráter, humildade e ostentação alimentam todo tipo de trama. Nas telenovelas, esse gênero de conflito é quase obrigatório, talvez por ser tão atemporal e, ao que parece cada vez mais, uma questão dos nossos dias.
E é justamente a certeza de que a distância entre o que somos no ambiente público do que praticamos no ambiente privado pode ser posta à prova que leva o autor Aguinaldo Silva a dizer que sua nova Fina Estampa, que estreou ontem na RPC TV, é uma novela que vai se desenvolver entre quatro paredes, quem sabe numa espécie de voyeurismo sociológico.
Criador de cidades fictícias memoráveis, como a Asa Branca de Roque Santeiro (1985) e a Greenville de A Indomada (1997), Aguinaldo escolheu ambientar a história em um bairro real, a Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ex-reduto dos emergentes cariocas e atual canteiro de obras da cidade moderna que promete surgir com a Olimpíada de 2016, o bairro aparece verdadeiro em cena, com suas ruas mais conhecidas, condomínios de luxo e periferia. Não por acaso, é lá que mora o autor.
No centro da trama estão duas grandes mulheres, Griselda e Tereza Cristina, interpretadas por duas grandes atrizes, Lilia Cabral e Christiane Torloni. A primeira é apegada demais às aparências e a segunda, desleixada demais na frente do espelho. Viúva, Griselda trabalha como "faz-tudo" na região, e sofre preconceito do próprio filho, que aliás está noivo da filha de Tereza Cristina. É claro que, já nas primeiras cenas, é inevitável pensar que a primeira é péssima pessoa e que a segunda tem um sólido caráter. Mas Aguinaldo tem preparada a reviravolta que vai pôr as duas personagens lado a lado na sociedade. Até que ponto o dinheiro pode mudar a essência de uma pessoa? Se os 200 e tantos capítulos que vêm por aí pudessem ser resumidos numa pergunta, seria essa.



