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Cênicas

Imagens delirantes de Paulo Leminski

Companhia Brasileira de Teatro apresenta hoje leitura dramática de um texto pouco conhecido do poeta curitibano morto em 1989

Nadja Naira:  o exercício dramático se relaciona com trabalhos anteriores da Companhia Brasileira de Teatro | Divulgação
Nadja Naira: o exercício dramático se relaciona com trabalhos anteriores da Companhia Brasileira de Teatro (Foto: Divulgação)

Muita gente desconhece, mas o "romance-ideia" Catatau, lançado em 1975, obra seminal do poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989), teve como embrião um pequeno texto escrito no final da década de 60: o conto "Descartes com Lentes", publicado em 1995, pela Coleção Bu­­quinista, da Fundação Cultural de Curitiba.

"É como se ele tivesse pego ‘Descartes...’ e ampliado, revisitado, para criar o Catatau. É um texto muito conciso, mas já com o delírio da linguagem e a inovação que se veria depois", diz Márcio Abreu, diretor artístico da Companhia Brasileira de Teatro.

Para homenagear o poeta na data em que ele completaria 65 anos, o diretor apresenta uma leitura dramática do texto interpretada pela atriz Nadja Naira, sob sua direção, na sede da companhia. O exercício cênico, que se transformará em uma pequena peça a ser apesentada em outubro ou novembro em um evento sobre Leminski, no Itaú Cultural, em São Paulo, é parte de uma série de estudos que a companhia vem realizando desde agosto passado sobre a obra de Leminski. São investigações que levarão à realização da peça Vida, sobre a obra do autor, prevista para estrear no próximo ano.

O argumento explora uma situação hipotética para discutir questões relacionadas ao Brasil: o físico e matemático francês René Descartes (1596-1650) chega a Pernambuco, nas caravanas do holandês Maurício de Nassau, e toma contato com o exotismo e as belezas locais. "O texto discute a relação entre o pensamento cartesiano e a exuberância da fauna, da flora, dos cheiros", diz o diretor.

E como encenar este dilema entre dois mundos aparentemente antagônicos, ainda por cima, narrado pela prosa delirante de Leminski? "Como este é um texto mais conciso, as imagens são mais acessíveis para uma primeira escuta", explica Abreu.

"A estrutura narrativa é repleta de imagens muito ricas. O que fazemos é, a partir da narrativa, passar por estas imagens utilizando o recurso físico do ator", diz o diretor.

Nadja Naira se foca nas palavras ao narrar em primeira pessoa – um "eu" ambíguo, que é Des­­cartes, mas também Le­­minski. O exercício dramático se relaciona com trabalhos anteriores da companhia. "Buscamos desenvolver textos ou utilizar textos já existentes que ofereçam a ator a possibilidade de desenvolver uma trajetória criativa pela palavra. O corpo e a palavra não são dissociados, o corpo ganha expressão na medida em que o ator se apropria da palavra, quando ele fala, não é só boca, mas seu corpo inteiro que fala", explica o diretor.

Após a leitura dramática, o poeta e estudioso de Leminski Ivan Justen fará a mediação de um debate público sobre o texto.

Serviço

Descartes com Lentes, na Sede da Companhia Brasileira de Teatro (R. José Bonifácio, 135 – Largo da Ordem), (41) 3223-7996. Com Nadja Naira. Dia 24, às 20 horas. Entrada franca.

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