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Um bem para os ouvidos

Inezita Barroso emociona curitibanos no Teatro Guaíra

A "Dama" da música caipira brasileira recebeu convidados no show que parte do projeto "Brasil Caboclo"

No auge dos seus 81 anos a cantora, compositora, atriz, professora e "Dama" caipira do Brasil, Inezita Barroso, é música pura e tem o pique de menina nova, com a experiência de cabelos brancos bem escondidos em tons de preto tradicionais e mechas azuis modernas.

A apresentação da noite, parte do projeto "Brasil Caboclo", para um Teatro Guaíra lotado, não começou com o show da Inezita, mas o "show" começou mesmo quando ela pisou no palco. De mãos dadas com o violonista Joãozinho "Barroso", a Dama saudou a todos, que a aplaudiam de pé. Recepção justa que reconhece os 56 anos de carreira artística, não só como cantora, já que seus dotes vão além do simples "cantar". Como exemplo de sua importância e relevância para a música brasileira, ganhou sete prêmios Roquette Pinto nas décadas de 60 e 70 como a melhor cantora do Brasil. Fora estes, foram quase 200 prêmios de reconhecimento musical bem dispostos em mais de 80 gravações (entre 78 rotações, LPs, CDs).

Nascida Inês Madalena Aranha de Lima (em 4 de março de 1925, em São Paulo), virou Inezita Barroso após o seu casamento com Adolfo Barroso. Já sobre o palco do Guaíra, ela rapidamente apresentou o seu companheiro de violão e soltou a voz. Sua simpatia logo provocou risadas e aplausos, que seriam comuns durante todo o show.

O repertório apresentado passeou por grande clássicos da música caipira como "Boiadeiro Errante", "Cavalo Preto", "Rio de Lágrimas", até os sucessos que a consagraram como "Cafezal em Flor", "Marvada Pinga" e "Lampião de Gás". O auge da apresentação, tanto para os ouvidos quanto para os olhos de todos – que lacrimejaram por várias vezes – foi na belíssima "Luar do Sertão", composição de Catullo da Paixão Cearense e João Pernambuco.

Só a letra já encanta - "A gente fria desta terra sem poesia, não se importa com esta lua, nem faz caso do luar. Enquanto a onça, lá na verde capoeira, leva uma hora inteira, vendo a lua a meditar" – mas no meio da canção o jovem Manuel Rigel Dias, de apenas 7 anos pega um microfone e faz um dueto com Inezita.

O garotinho, que já tinha subido ao palco para pedir a clássica "Marvada Pinga", encantou a platéia. "É uma coisa que eu nunca mais vou esquecer", disse o pequeno cantor. Iniciado na música caipira pelo pai e pelos tios, Manuel disse "que as músicas são muito legais. Eu adoro".

Emocionada, e sem fazer questão nenhuma de esconder isso, a Dama encerra o espetáculo enxugando as lágrimas.

A organização do show, mais os convidados, convenceu-a a voltar ao palco para receber uma placa de homenagem e cantar o esperado bis aos presentes. "Amei. Fiquei muito emocionada, já que não vinha aqui em Curitiba há muito tempo. E o garotinho, que coisa mais linda. É uma esperança, uma grande esperança para todos nós", disse em entrevista à Gazeta do Povo Online.

Os elogios e agradecimentos não pararam por aí. "Dá um entusiasmo muito grande, sabe? Uma coisa linda, muita gente aplaudindo de pé. Eu fiquei muito gratificada mesmo, muito feliz. São essas coisas que me motivam a continuar depois de tanto tempo. Se um artista não sentir isso que estou sentindo, é melhorar parar mesmo (risos)".

Num bate-papo no camarim, a Dama estava cansada, mas não deixou de receber todos os fãs que queriam uma foto ou um autógrafo. Sobre levar a música regional, caipira, a grandes teatros como o Guaíra, Inezita se orgulha. "Temos que levar nossa música para todos os lugares. O que fazemos não é besteira, não é coisa estrangeira. É nacional, coisa nossa, coisa boa".

Ainda abalada com a morte do seu grande companheiro de Viola, Minha Viola (programa apresentado por ela na TV Cultura há 26 anos), Robertinho do Acordeon – vítima de um infarto no dia 30 de dezembro de 2005 – Inezita lembra com saudade do amigo. "Ai o Robertinho né? Foi uma tristeza muito, mas muito grande. Faz muita falta mesmo. Vamos levando a vida e fazendo música, que era isso que ele gostava".

Agradecida, a Dama da música caipira agradece a presença e promete voltar em breve, "o mais breve possível".

Os convidados da noite

A dupla sertaneja curitibana Willian e Renan abriu a noite de shows com o clássico caipira "Chico Mineiro". Juntos há 20 anos, os cantores arrancaram aplausos da platéia ao interpretarem a música "As mocinhas da cidade", do paranaense Nhô Belarmino. Em seguida a dupla cantou outras três músicas próprias e deixou o palco para os músicos do grupo Viola Quebrada.

"Arsenal de instrumentos"Juntos desde 1997, Rubens Pizza, Rogério Gulin, Mateus Saldanha, Vanderlei Lima, Margareth Maquiolki e Oswaldo Rios trouxe "modas" de viola, humor e uma excepcional habilidade instrumental. No repertório apresentado, canções como "Agora você vai ouvir aquilo que merece", "Viola quebrada", "Moreninha linda" e "Meu Paraná", o grupo divertiu e impressionou a platéia com seu talento.

A experiência de dividir o palco com Inezita Barroso, assim como fizeram recentemente como cantor Tinoco, o grupo sente orgulho. "É sensacional. Eles se confundem com a própria história da música caipira e nós estamos dividindo o palco com eles. É maravilhoso", conclui.

Após lançarem três discos, dois com releituras da música caipira e um só sobre fandango – gravado com a família Pinheiro, de Guaraqueçaba, litoral do Paraná e berço do fandango do estado – o grupo prepara a 4.ª investida. Até o final de março será lançado "Noites do Sertão", com regravações de grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Tom Jobim e Edu Lobo, além da canção "Valeu", com letra do poeta paranaense Paulo Leminski. "Nós pegamos essas canções e colocamos nosso arsenal de instrumentos caipiras".

Guatupê e GuaratubaCom quase 25 anos de estrada, os paranaenses comemoram o dia no qual a cantora Inezita Barroso apareceu em suas vidas. "Tudo que falarmos sobre ela será pouco. Ela é uma pessoa iluminada por Deus e a ‘Mãe’ de todos os violeiros do Brasil. Pessoas como nós, que nunca tivemos muito acesso na mídia, ficaram conhecidas graças ao projeto maravilhoso que ela toca", disse o cantor Guaratuba.

A música "Prato do dia", primeiro grande sucesso da dupla foi cantada em coro pela platéia. Seguiram-na as músicas "Paixão recolhida", "Nem ouro, nem prata" e "Mensagem divina". Atualmente a dupla prepara um novo CD que será lançado no próximo dia 1.º de Maio, dia do trabalhador. Para terminar, Guaratuba resume o sentimento de muitos que estiveram na noite deste domingo no Teatro Guaíra. "Ela é uma lenda e deveria ser imortal". E será, com certeza, na lembrança dos mais saudosos.

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