
Vocês vão ter que a engolir. Se em tempos outros era o rock curitibano que derrubava a barreira do invisível e almejava algum alcance nacional Blindagem, Beijo AA Força, Maxixe Machine, Relespública, Poléxia , e no início da década passada a fuleiragem funkeada do Bonde do Rolê conquistou até a revista Rolling Stone "escutem essa banda!", ordenaram , hoje é uma rapper do Boqueirão que carrega a música da cidade nas costas e na mochila, e de certa forma manda um recado para aqueles que ainda esperam algum grupo local "fazer sucesso de verdade" para que lhe seja dada a devida atenção.
Veja o vídeo da turnê de Karol
O fato é que Karol Conka está com tudo. Um ano após o lançamento de Batuk Freak, álbum que colocou a vida de Karoline dos Santos Oliveira de cabeça para baixo, a descolada rapper de cabelo mutante vive um "boom" internacional que desafia explicações.
Começou com a inclusão da música "Boa Noite" no game Fifa 2014, passou por sua participação na propaganda da Adidas, chegou até o Japão, onde, após convite do DJ Zegon, tocou ao lado da dupla N.A.S.A., e agora o furacão Karol está na Europa o selo inglês Mr. Bongo Records lançou o disco internacionalmente, e a rapper tem quatro shows na França e um na Inglaterra programados até o fim do mês.
"Já me disseram por aqui que não fazem a menor ideia do que eu canto, mas que adoram a minha interpretação, espontaneidade e atitude", diz Karol, por e-mail, de Paris. Sua extroversão nada curitibana, seu visual caleidoscópico e, claro, a sonoridade algo universal de Batuk Freak, abriram portas para sempre. "Talvez o disco tenha saído no momento certo, em que as pessoas estavam buscando algo contemporâneo e diferente do que está saindo pelo mundo. Tanto é que o disco foi bem aceito tanto como hip-hop quanto como world music", diz a M.I.A. dos pinheirais.
Na turnê europeia, a rapper está sendo acompanhada pelo DJ francês Tom B. "Sabe tudo de música brasileira. Já desfilou no carnaval carioca duas vezes e conhece um monte de músicos aqui na Europa", diz a curitibana, que também aproveita para fazer seus contatos. "Conheci a cantora africana Angélique Kidjo e a búlgara Dena."
A música de Karol Conka encontrou um facilitador na França, país em que a cultura do rap tem grande força. Ela conta que os franceses e imigrantes africanos, propulsores da cena local "já estão abertos" a esse tipo de música. "Tenho o privilégio de poder circular confortavelmente entre o rap, o pop e a world music aqui na Europa, assim como tem rolado no Brasil", diz.
Apesar do assédio da imprensa local "na primeira semana, fiz várias entrevistas por dia!" , Karol se diverte. Conta que oui, está se virando em francês. E que, no tempo que sobra, passeia por Paris. O mais difícil mesmo é acompanhar a repercussão de seu trabalho. No fechamento desta reportagem, uma informação de última hora: o disco Batuk Freak é o mais "baixado" e o segundo mais ouvido no conceituado site francês Qobuz. Quem segura Karol?




