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Literatura

Labirintos herméticos

Finalista da categoria de melhor romance do Prêmio Jabuti, Evandro Affonso Ferreira assume que sua obra é difícil e diz que não almeja o sucesso comercial

Evandro Affonso Ferreira, escritor | Divulgação
Evandro Affonso Ferreira, escritor (Foto: Divulgação)
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Hermética, difícil e desconfortável. O escritor mineiro Evandro Affonso Ferreira concorda com essas e outras definições pouco abonadoras de sua literatura, recheada de citações e neologismos. "Meus livros são mesmo para poucos", avalia.

Avesso a badalações e crítico da vaidade de seus colegas escritores, Ferreira diz não ter intenção de figurar em uma lista de mais vendidos. "Certo dia, um crítico disse que meu livro será um sucesso, pois eu venderia um exemplar para os meus 43 leitores. Acho que é esse mesmo o número dos meus leitores, mas são pessoas que entendem as minhas referências e têm 5 mil livros na biblioteca de casa. Prefiro que seja assim", afirma o autor.

O livro em questão é o novo romance do autor: O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam (Record). Na semana retrasada, foi anunciado que a obra de Ferreira está na lista dos dez finalistas na categoria melhor romance, da 55.ª edição do Prêmio Jabuti. Concorrem com ele autores como Daniel Galera (por Barba Ensopada de Sangue), Zuenir Ventura (Sagrada Família) e Márcia Tiburi (Era Meu Esse Rosto).

Para Márcia Tiburi, amiga do autor e com quem divide um projeto de oficinas literárias, o prêmio vai fazer justiça às narrativas invulgares de Ferreira. "Está na hora dele. Ninguém escreve prosa como o Evandro no Brasil", diz Márcia.

Um reconhecimento que parte da crítica especializada e outros escritores já tinham dedicado ao seu primeiro romance, Minha Mãe Se Matou sem Dizer Adeus (Record), vencedor do prêmio de melhor romance da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 2010.

Livro que marcou uma transição na carreira do escritor, do conto para o romance, e também trouxe uma mudança de tema e estilo em sua obra. "Antes eu era um garimpeiro de palavras, obcecado pela sonoridade e pela forma delas. Tinha preocupação com a vida das palavras. Agora estou preocupado com a morte do homem", observa o autor, que já foi bancário, vendedor de sapatos e dono de sebo (leia mais ao lado).

Adágios

"Talvez, meu novo livro nem alcance os 43 leitores, pois hoje em dia pouca gente sabe o que significa ‘de cor’, nem o que são adágios, muito menos quem foi [o teólogo holandês] Erasmo de Rotterdam (1466-1536)", se diverte Ferreira.

Ele conta que o livro narra a vida de um mendigo romântico e erudito que vive abandonado após sofrer uma grande decepção amorosa.

"Eu tive a ideia depois que contei exatos 95 mendigos nos arredores do edifício Copan [no centro de São Paulo] onde moro. Pensei: ‘um dia vou escrever sobre mendigos’", revela.

A exemplo de seu primeiro romance, Ferreira desenvolveu as ideias centrais do livro sentado no "posto de observação" que montou em uma confeitaria de um shop­­ping na capital paulista.

"Fechava os olhos e imaginava 12 mendigos bêbados e um deles estava há 10 anos esperando a mulher amada que nunca chega, ainda que ele espere que isso ocorra a qualquer instante."

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