
Cannes - Robin Hood, de Ridley Scott, abriu o 63.º Festival de Cannes do jeito que o evento gosta: uma boa dose de espetáculo sem abdicar dos temas relevantes, estrelas cintilantes Russell Crowe e Cate Blanchett , perfeitas para abrilhantar o tapete vermelho, e um diretor que pode ser considerado um autor dentro da indústria hollywoodiana.
Não dá para negar que a decisão de escolher a produção para a abertura do festival foi ousada. Afinal, o filme, que tem estreia mundial (inclusive em Curitiba - confira o serviço) amanhã, trata os franceses como os vilões da história.
Na coletiva de imprensa, o produtor Brian Grazer fez uma careta fingindo medo antes de responder à questão inevitável. "Acho que tanto os ingleses quanto os franceses têm qualidades e defeitos no filme. Fiquei animado de ter sido convidado e é claro que há uma natureza política na produção, mas tudo ocorreu muito tempo atrás", disse.
O ator Russell Crowe preferiu fazer uma brincadeira. "Em Hollywood, é muito raro ter um filme com tantas falas em francês, com tantos personagens franceses diversos. Este Robin Hood é o único que mostra que o rei Ricardo Coração de Leão não volta para salvar a pátria e é morto pela flecha de um cozinheiro francês, quando tenta saquear um castelo. Essa é uma parte importante da história que resolvemos contar e é provavelmente a razão pela qual fomos escolhidos para a abertura do Festival de Cannes."
Realismo
Tentar contar a história com certo realismo não é novidade para a dupla Ridley Scott-Russell Crowe, cuja parceria começou dez anos atrás, com Gladiador, vencedor do Oscar de melhor filme em 2001. Assim, eles procuraram pensar em que circunstâncias Robin Hood poderia ter existido afinal, não há provas de que ele realmente tenha vivido. Definiram que a virada do século 12 poderia ser um bom período.
Na época, o rei Ricardo Coração de Leão tinha afundado a Inglaterra em dívidas por conta de seus dez anos de Cruzadas e morreu deixando o posto para seu irmão John, um rei de enorme ego que mais tarde assinaria uma versão da Carta Magna. Os impostos eram tão altos que deixavam pouco para os habitantes, reduzidos a mulheres, velhos e crianças devido à guerra. "Em termos de acuidade histórica, é esta parte em que nos concentramos. O resto, inventamos", disse Russell Crowe o diretor não pôde comparecer porque se recupera de uma cirurgia no joelho.
Robin Hood trata das origens do personagem. Robin Longstride é um arqueiro do exército de Ricardo Coração de Leão, que há dez anos abandonou seu país para viver aventuras pelo mundo. Com a morte do rei em território francês, ele decide retornar à Inglaterra com quatro companheiros.
Quando o cavaleiro Robert Loxley, destacado para levar a mensagem da morte do rei e a coroa de volta a Londres, é pego numa emboscada, Robin e seu bando veem a chance de chegar à capital a salvo. Antes de morrer, o cavaleiro incumbe o protagonista de entregar sua espada, uma relíquia de família, a seu pai, Lorde Loxley (Max Von Sydow), em Nottingham. Lá, Robin Hood conhece seu passado e um amor, a durona Lady Marion (Cate Blanchett).
Ressonância
Crowe contou que aceitou de imediato a proposta de fazer uma nova versão de Robin Hood. Pesquisou sobre o personagem e trocou suas impressões com o cineasta Ridley Scott. Resolveram começar do início. "Nenhum outro Robin Hood mostra a motivação do personagem", disse. "Nós tivemos uma abordagem bem arrogante, e você precisa ter se vai fazer um filme com um personagem tão conhecido: Tudo o que você viu antes foi um erro", disse, em tom jocoso. Provocativo, disse que hoje em dia Robin Hood provavelmente veria os grandes monopólios da mídia como o grande inimigo. E brincou: "Bon jour", tomando em seguida um gole de café.
Uma jornalista inglesa quis saber se Cate Blanchett via ressonância na história de Robin Hood com o que ocorre hoje no Reino Unido, cujo novo primeiro-ministro, David Cameron, defende o corte dos impostos para os ricos. "Sim, totalmente", disse ela. Crowe preferiu não encontrar uma visão contemporânea dos fatos na versão da história apresentada pelo filme em dado momento, por exemplo, o protagonista diz ao rei que os ingleses não serão admirados por Deus por conta do massacre de uma cidade muçulmana. "Robin simplesmente está atormentado pelo sofrimento desnecessário de seres humanos. Não acho que seja uma qualidade contemporânea", afirmou.
Ainda assim, é impossível não relacionar o filme com a crise econômica mundial e a ganância dos mais poderosos em cima dos mais pobres. Robin Hood é muito mais ambicioso que seus antecessores ao tentar dar profundidade histórica e temática ao ladrão da floresta fanfarrão e romântico de outras épocas, sem deixar de lado o humor, o drama, o romance e muita ação as cenas de batalhas são daquelas em que o espectador sente as lâminas e flechas entrando nos corpos. Não é pouca coisa, mas Ridley Scott, escorado por dois atores talentosos, consegue mais uma vez ser eficiente.
O ator garantiu que não há roteiros prontos para sequências, apesar de Robin Hood deixar a porta aberta para outras histórias. "Eu adoraria trabalhar num filme deste tamanho, com Ridley e Cate novamente", afirmou. "E nós nem vimos ainda a grande cena de amor entre Robin e Marion", brincou o ator, fazendo Cate Blanchett revirar os olhos de brincadeira. Dependendo dos números da bilheteria, pode ser que o filme de abertura de Cannes inaugure uma nova franquia. GGG1/2





