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Devagar com o andor, porque a santa é de barro. ARTPOP, terceiro álbum de Lady Gaga, lançado oficialmente há pouco mais de uma semana, está muito, muito longe de ser aquele tipo de revolução que artistas como David Bowie, Björk e Madonna um dia promoveram. A coleção de 15 faixas da cantora é, no seu melhor, um eficiente resultado da manipulação extrema a que o pop contemporâneo vem se submetendo, com sonoridades impactantes de sobra, refrãos para lá de fáceis e nenhum pudor em reciclar ideias.
O convite da faixa de abertura, "Aura" ("Você quer ver a garota que vive por trás da aura?"), chega a ser engraçado diante da avalanche de libido que vem em seguida, com "Sexxx Dreams", "Manicure" e "Do What U Want", este um dueto com o malandrão R. Kelly, em que Gaga põe as cartas na mesa: "Você não é dono da minha vida, mas pode fazer o que quiser com meu corpo". Rap vida lôka, "Jewels nDrugs" soa meio deslocado, meio Rihanna demais, mas logo a cantora está noutra, com as faixas de celebração/crítica ao mundo da moda "Donatella" e a Bowie-referente/reverente "Fashion!".
De repente, hora do romance culpado. Na balada de piano "Dope", Gaga lamenta ter vivido tão doidona por tanto tempo e diz a seu amor: "Preciso mais de você que de droga". Já em "Gipsy" (a de Shakira? Quase!), ela admite: "Não quero ficar sozinha para sempre/ mas adoro a vida de cigana". E, para encerrar ARTPOP, "Applause", o aplauso, razão da sua existência e canção na qual ela expõe o discurso em que quer se escorar ("A cultura pop estava na arte/ Agora a arte está na cultura pop, em mim!") e nem sempre consegue.
