
De uma peça de vidro cuja forma lembra uma lápide, escorre uma substância negra e viscosa que se espalha pelo chão ao som dos tristes versos de "Hora da Razão", samba do compositor baiano Batatinha (Oscar da Penha, 1924 1997): "Se eu deixar de sofrer/ Como é que vai ser/ Para me acostumar".
O contraste entre materiais de texturas, cores e temperaturas diferentes o breu derrete ao entrar em contato com pontos aquecidos do vidro é apenas uma das nuances presentes nas três peças que compõem Hora da Razão (Choro Negro 2), exposição inédita do artista plástico paulistano Nuno Ramos, que entra em cartaz a partir de hoje, na Galeria da Caixa.
Tido como um dos mais importantes e inventivos artistas plásticos da atualidade, Nuno Ramos, a partir da tensão entre os materiais com os quais trabalha, trata da passagem do tempo em grande parte de suas obras, com predominância da morte entre seus temas mais recorrentes.
Além do fim, a morte, na concepção de Ramos, representa a transformação e a possibilidade de purificação. Foi assim com Morte das Casas, uma de suas exposições mais reverenciadas, em que o artista levou uma cascata de 20 metros de altura ao átrio do Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, há cinco anos.
Filósofo por formação, Ramos ganhou destaque no cenário artístico nacional e internacional nos anos 1980, quando integrou o Casa 7 grupo de jovens pintores que dividiam o mesmo ateliê em São Paulo. O artista, que também possui forte ligação com a literatura (é autor de livros de prosa) e o cinema (já dirigiu três curtas-metragens), completa a lista de competências com a música. Também é compositor de sambas, assim como Batatinha, cuja canção em versão filmada, cantada por Rômulo Fróes, Paulo Climachauska e Nina Becker foi escolhida para intitular e sonorizar as impactantes peças da exposição, que fica em cartaz até o dia 12 de julho.
Serviço:
Exposição Hora da Razão (Choro Negro 2), de Nuno Ramos. Galeria da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5114. Hoje (16), às 19h30. Em cartaz de terça-feira a sábado, das 10 às 21 horas; e domingos, das 10 às 19 horas. Até 12 de julho. Entrada franca. Classificação indicativa: livre.



