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Como foi

Lampião: o pé que no chão eu ponho

Montagem da obra-prima de Vilela potencializou o universo sertanejo-medieval do original | João Caldas/Divulgação
Montagem da obra-prima de Vilela potencializou o universo sertanejo-medieval do original (Foto: João Caldas/Divulgação)

Ao fim de pouco mais de uma hora, um Teatro Fernanda Montenegro quase lotado aplaudia, numa intensidade inusual, o que tinha acabado de ser consolidado. E havia mais de três razões para tanto. Lampião e Lancelote, a peça arrasa-quarteirão do fim de semana, chegou para duas apresentações e deixou um rastro significativo, do teatro como território do lirismo e do sonho.

Vencedora dos principais prêmios do teatro brasileiro de 2013, a montagem de Debora Dubois sempre teve aos ombros o nada desprezível peso de ser a transposição do livro homônimo de Fernando Vilela, que é um solar encontro entre A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, e o dialeto- chão de Patativa de Assaré, principalmente da narrativa heroico-irônica de A História de Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. Ao universo medieval-sertanejo, onde o sol é rei de si e a vingança se alimenta da seca, Vilela acrescentou a cavalaria de Excalibur e a Távola Redonda. E o que se viu, desde a entrada de Daniel Warren, o narrador-trovador, foi um acontecimento intimidante, quando uma forma de arte potencializa outra e o tempo não cursa, nem regressa.

Tudo funcionou em Lampião e Lancelote. O duelo onírico-desértico fundiu-se à métrica existencialista de Vilela. A direção musical de Zeca Baleiro conferiu à história uma nova camada, amplificada em canção e gesto: "Guerra onde ninguém morre, onde o sangue só escorre para colorir, enfeitar. [...] Só existe em sonho e o pé que no chão eu ponho". Curitiba teve, por dois dias, um espetáculo.

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