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Música

Lendas do rock

 | Fotomontagem: Guilherme Paixão
(Foto: Fotomontagem: Guilherme Paixão)
Autobiografia -Iron Man: Minha Jornada com o Black Sabbath- Tony Iommi. Tradução de Tatiana Leão. Planeta, 400 págs., R$ 39,90 |

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Autobiografia -Iron Man: Minha Jornada com o Black Sabbath- Tony Iommi. Tradução de Tatiana Leão. Planeta, 400 págs., R$ 39,90

Biografia -O Reino Sangrento do Slayer- Joel McIver. Tradução de Marcelo Viegas. Edições Ideal, 372 págs., R$ 38 |

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Biografia -O Reino Sangrento do Slayer- Joel McIver. Tradução de Marcelo Viegas. Edições Ideal, 372 págs., R$ 38

The Beatles |

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The Beatles

Elvis Presley |

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Elvis Presley

Jim Morrison |

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Jim Morrison

John Lennon |

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John Lennon

The Dark Side of the Rainbow - Pink Floyd |

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The Dark Side of the Rainbow - Pink Floyd

Kurt Cobain |

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Kurt Cobain

Sinônimo de contestação e rebeldia, pesadelo dos pais e das pessoas "de bem", combustível dos mais variados excessos, trilha sonora da juventude, o rock sempre esteve associado a desvios de comportamento, ao abuso de drogas e álcool, à iconoclastia e à morte precoce de fãs e ídolos. Talvez por isso, nenhum outro gênero musical tenha rendido tantas lendas e boatos quanto o rock-and-roll, nesses quase 60 anos desde a sua "criação". Todo esse folclore em torno do rock fascinou o jornalista e escritor Sérgio Pereira Couto, que decidiu reunir os principais "causos" do gênero no livro O Rock Errou? – Os Maiores Boatos, Lendas e Teorias da Conspiração do Mundo do Rock, recém-lançado pela Matrix Editora. Confira a seguir algumas dessas histórias:

Tony Iommi, o herói da resistência

Mesmo para quem é apenas um fã casual de rock, Tony Iommi dispensa apresentações. O cara praticamente inventou o heavy metal e continua a ser um dos músicos mais influentes da história desse gênero. A lenda de como ele descobriu o som pesado ideal com sua guitarra já foi contada infinitas vezes ao longo das últimas quatro décadas, mas ler sobre essa façanha nas palavras do próprio Iommi é algo pelo qual milhões de pessoas, fãs e aficionados em música esperavam há tempos.

Confira histórias e lendas sobre o Slayer

A descoberta da sonoridade do metal é apenas uma das surpreendentes histórias narradas em Iron Man: Minha Jornada com o Black Sabbath, autobiografia de Iommi escrita com T. J. Lammers, lançada no exterior em 2011 e há dois meses no Brasil. O livro traz uma abundante série de "causos" relatados em detalhes pelo cofundador do Black Sabbath.

A começar pelo trágico acidente que decepou as pontas de dois dedos de sua mão direita. Iommi tinha apenas 17 anos e trabalhava como soldador em uma fábrica. Ele havia acabado de entrar para a banda The Bird & The Bees, que planejava uma turnê pela Europa, e por isso, havia acabado de pedir demissão do emprego. No último dia na fábrica, Iommi foi colocado para operar, pela primeira vez na vida, uma máquina que dobrava pedaços de metal. "Depois de voltar do horário do almoço, pisei no pedal e a prensa veio direto na minha mão direita. Quando puxei a mão de volta por reflexo, as pontas dos meus dedos foram arrancadas", conta.

Qualquer pessoa em sã consciência iria simplesmente aposentar as seis cordas da guitarra após viver tamanho trauma, mas não Iommi. Após ganhar de presente do gerente da fábrica um disco de Django Reinhardt (1910-1953) – que perdeu a mobilidade de dois dedos da mão esquerda após um incêndio –, Iommi resolveu tentar. E ele explica, nos mínimos detalhes, o "estilo pouco ortodoxo", segundo suas próprias palavras, que inventou para continuar tocando guitarra e, consequentemente, virar uma lenda do rock.

O próprio guitarrista criou dedais – primeiro de plástico, depois com o couro de uma jaqueta velha – para cobrir as pontas dos dedos decepados. Passou também a usar cordas de banjo na guitarra, mais finas, pois, na época, as empresas do ramo fabricavam apenas cordas de grossa calibragem. Por fim, mexeu também na afinação do instrumento, baixando-a de uma maneira que nenhum outro guitarrista havia feito.

Após narrar a formação do Black Sabbath, o livro se transforma numa coleção de detalhes sobre cada um dos discos da banda e suas respectivas gravações, além dos três álbuns-solo de Iommi. Abençoado com uma memória enciclopédica, o guitarrista menciona cada um dos músicos que já passaram pelo Sabbath, incluindo integrantes não oficiais, como Dave Walker (durante três semanas, em 1977) e David Donato (entre 1984 e 1985).

E é justamente nesses tipos de detalhes que os fãs devem ficar ligados: em meio a tantas histórias, há revelações preciosas, desconhecidas até pelos mais fanáticos. O leitor fica sabendo, por exemplo, sobre a hilária gravação da instrumental "FX" (de Vol. 4), na qual quase todos os integrantes estavam nus. Descobre ainda o inusitado significado do título da também instrumental "Fluff" (de Sabbath Bloody Sabbath), qual foi a única música para a qual Iommi gravou vocais de apoio e quem cantou na faixa "Solitude" (de Master of Reality).

Além de responder a essas perguntas, Iommi larga algumas bombas em sua autobiografia. Quantas pessoas sabiam que um homem, possivelmente satanista, tentou matar o guitarrista com um punhal durante um dos primeiros shows do Black Sabbath? Ou então, que Robert Plant e John Bonham, do Led Zeppelin, fizeram uma jam session com o Sabbath durante as gravações de Sabbath Bloody Sabbath (1973)? Iommi chega a revelar a possível existência de uma gravação desse encontro! Desse e de Ozzy cantando "Children of the Sea" antes de ser demitido da banda em 1979!

Só após a leitura de Iron Man... é possível acreditar que uma banda tão "maldita" quanto o Black Sabbath – levando em consideração os abusos de álcool e drogas de seus integrantes e todo o folclore que envolve a trajetória do grupo – tenha em sua liderança um homem calmo e sensato. "Os caras me ouviam, porque sempre fui considerado o líder da banda. No entanto, na melhor das hipóteses, eu era um líder muito relutante. Era um papel que, no fim das contas, acabou me contagiando, pois, se algo dava errado, eu precisava ser o pilar no qual todo mundo se apoiava e dizer: ‘Está tudo bem, vai dar tudo certo.’"Reserva moral do metal

Sandro Moser

"Existem muitas bandas de metal, mas apenas um Slayer", costumam repetir os fãs da banda. Adjetivos como "soberano", "inatacável" ou "intransigente" também são bastante usados para falar da formação que se uniu pela primeira vez em 1981, em Huntington Park, condado de Los Angeles, na Califórnia. E cuja carreira se confunde com a história do gênero que eles ajudaram a criar e difundir: thrash metal.

Algo que explica por que entre as insanas histórias que marcaram a trajetória "sangrenta" do Slayer, nenhuma delas envolva as guinadas e derrapadas comerciais e estéticas de outras bandas surgidas do mesmo barro, como os contemporâneos do Metallica.

Um autêntico fã de metal, e em especial do thrash, sua vertente mais canônica, preserva em qualquer idade uma planejada ingenuidade e testosterona juvenis. E sabe, portanto, que o fanatismo pelo Slayer vai além da poderosa e agressiva música defendida pelo antiposer vocalista e baixista chileno Tom Araya, pelos guitarristas Kerry King (o líder malvadão da banda) e Jeff Hanneman (responsável pela mistura de metal e punk rock que marca o som da banda), e do virtuoso baterista Dave Lombardo.

Essa postura intransigente preservada em meio ao caos do showbiz é que torna o Slayer uma das bandas mais icônicas e influentes de seu tempo, responsável por criar uma "moral" ao redor de sua música, que conquistou o respeito por fãs de diferentes estilos, do mercado e da crítica.

Assim, hoje o antes maldito nome Slayer batiza rótulos de vinhos e cervejas licenciados, uma igreja com sede em Milwalkee, nos Estados Unidos, e até um restaurante temático em Tóquio, no Japão.

Como um dos big four do thrash (ao lado de Anthrax, Megadeth e Metallica), a banda conquistou respeito artístico com seus 11 álbuns, dois discos ao vivo, quatro discos de ouro e cinco nomeações ao Grammy, com duas vitórias.

No mês passado, a Edições Ideal relançou no Brasil O Reino Sangrento do Slayer, do jornalista especializado em heavy metal Joel McIver. O livro, que já tinha sido lançado em 2011, teve a tradução revista e incluiu a morte do guitarrista Hanneman, aos 49 anos, por problemas hepáticos, no mês de maio.

O livro conta toda a história da banda, disco por disco, desde os primórdios em "bares sujos de São Francisco em 1982" até a conquista do planeta, tocando "num grande estádio uma década mais tarde", para usar trechos do texto do próprio autor.

A exemplo dos outros trabalhos de McIver, o livro não se aprofunda na pesquisa e biografia dos caras e acaba resumindo-se a uma compilação bem organizada de depoimentos dos integrantes da banda, empresários, fotógrafos, jornalistas e músicos ao próprio autor ou a outros veículos de comunicação. Ainda assim, é fundamental para conhecer melhor a longa e singular caminhada do quarteto californiano.

Um dos méritos do texto é dar voz a todos os envolvidos quando o tema são histórias e polêmicas que envolvem outras bandas, como Metallica, Megadeth, Soulfly e Slipknot, e ainda a ligação do Slayer com o satanismo e terrorismo religioso e toda a censura e perseguição que sofreu por isso.

O Reino Sangrento do Slayer também esmiúça cada gravação dos álbuns do grupo e a criação do estilo de composição da banda – um convite para fãs e neófitos ouvirem ou revisitarem música por música a discografia do Slayer enquanto lê cada capítulo.

Em um vídeo de grande repercussão na internet, o apresentador Luiz Carlos Alborghetti (1945-2009) lê uma mensagem de um telespectador e manda um abraço para a banda ("esláier", na pronúncia do falecido ex-deputado), chamando-a de "reserva moral do thrash metal". Olhando para a música e para carreira do Slayer, talvez o controverso "Dalborga" nunca tenha estado com tanta razão.

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